sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vinicius, 100 anos!



Vinicius,


Toda vez que, quando criança, ouvia seu nome, quase sempre diziam que você era o poeta que amava as mulheres. Depois, adulto, com as mulheres que eu andava, e com alguns homens também, você era o poeta que objetificava as mulheres, as tornava coisas, como bibelôs.


Pensava na sua capacidade profunda e leve de falar de amor. No texto inteligível alcançando a todos sem perder a graça e a grandeza poéticas... Você sempre existiu pra mim. Acho que por conta disso de fazer canções e de ligar-se a tal da MPB, poderosa forma de educação e formação de opinião no Brasil a partir dos anos 60, você se tornou o mais querido e conhecido poeta brasileiro, mais querido que o segundo mais conhecido Carlos Drummond de Andrade.


Sua poesia me tomou pelas vias da minha força de gostar de amar. E a sua história me comovia: o homem dos bares, à luz do Rio de Janeiro, amante da Bahia, filho fluido de Oxalá, protegido de mãe Menininha e todo amor ao falar de amor.


Grande, muito grande mesmo, poeta de todos nós. Por inteiro. Sem precisar ser mais ninguém, a não ser: o boêmio Vinicius de Moraes.
Agora, 100 anos! E Itapoan na minha corrente marítima. A voz de Maria Bethânia a entoar as precisas palavras suas... Saudade do que mais amo, na voz dela, embalando Primavera, me fazendo sonhar.


Sua história de tantas glórias também foi muito doída. O fim para sempre. A candura alcoólica, o homem humano com asas de poeta.


E esta eternidade acesa no coração de um país: você é assim. A gente lhe pensa com o coração e lhe sente na voz entoando suas canções ou recitando seus poemas.


Este sábado está impregnado de sua mágica presença. Nada de sentenças sobre perfeição; muito menos considerações irregulares sobre a sua condição de poeta. A sua condição de poeta lhe tornou o melhor poeta entregue ao viver. E a gente lembra bebendo e chorando frente à maresia, num misto de medo e de coragem pelos temporais que nos chegam pelas rotas da memória sangrando.

Hoje é alegria porque sua eternidade está durando na ontologia dos brasileiros. Porque a palavra nos veste e nos deixa mais bonitos à brasileira Vinicius; esta forma, por vezes sem forma, a guardar nossos sonhos de beleza.


Quereria ter o fazimento.
Ancorar em baías desconhecidas
E aplacar memórias minhas com sal
Cerveja olhares tesão e sua poesia.
Ouvir frente ao mar suas canções
Sair talvez sem sair da Bahia.

Esteja conosco, poeta. Esta casa, que abriga mais de duzentos milhões, é sua. O Brasil é um pouco invenção sua também; e eu te abraço, mesmo confuso frente à morte, porque sei que nada nos é mais vivo do que o seu testemunho. Como Neruda, você poetinha nos confessou que amou e viveu. Apaixonadamente.


E não esqueceremos  você. 

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