Vinicius,
Toda vez que, quando criança, ouvia
seu nome, quase sempre diziam que você era o poeta que amava as mulheres.
Depois, adulto, com as mulheres que eu andava, e com alguns homens também, você
era o poeta que objetificava as mulheres, as tornava coisas, como bibelôs.
Pensava na sua capacidade profunda
e leve de falar de amor. No texto inteligível alcançando a todos sem perder a
graça e a grandeza poéticas... Você sempre existiu pra mim. Acho que por conta
disso de fazer canções e de ligar-se a tal da MPB, poderosa forma de educação e
formação de opinião no Brasil a partir dos anos 60, você se tornou o mais
querido e conhecido poeta brasileiro, mais querido que o segundo mais conhecido
Carlos Drummond de Andrade.
Sua poesia me tomou pelas vias da
minha força de gostar de amar. E a sua história me comovia: o homem dos bares,
à luz do Rio de Janeiro, amante da Bahia, filho fluido de Oxalá, protegido de
mãe Menininha e todo amor ao falar de amor.
Grande, muito grande mesmo, poeta
de todos nós. Por inteiro. Sem precisar ser mais ninguém, a não ser: o boêmio
Vinicius de Moraes.
Agora, 100 anos! E Itapoan na minha
corrente marítima. A voz de Maria Bethânia a entoar as precisas palavras
suas... Saudade do que mais amo, na voz dela, embalando Primavera, me fazendo
sonhar.
Sua história de tantas glórias
também foi muito doída. O fim para sempre. A candura alcoólica, o homem humano
com asas de poeta.
E esta eternidade acesa no coração
de um país: você é assim. A gente lhe pensa com o coração e lhe sente na voz
entoando suas canções ou recitando seus poemas.
Este sábado está impregnado de sua
mágica presença. Nada de sentenças sobre perfeição; muito menos considerações
irregulares sobre a sua condição de poeta. A sua condição de poeta lhe tornou o
melhor poeta entregue ao viver. E a gente lembra bebendo e chorando frente à
maresia, num misto de medo e de coragem pelos temporais que nos chegam pelas
rotas da memória sangrando.
Hoje é alegria porque sua
eternidade está durando na ontologia dos brasileiros. Porque a palavra nos
veste e nos deixa mais bonitos à brasileira Vinicius; esta forma, por vezes sem
forma, a guardar nossos sonhos de beleza.
Quereria ter o fazimento.
Ancorar em baías desconhecidas
E aplacar memórias minhas com sal
Cerveja olhares tesão e sua poesia.
Ouvir frente ao mar suas canções
Sair talvez sem sair da Bahia.
Esteja conosco, poeta. Esta casa,
que abriga mais de duzentos milhões, é sua. O Brasil é um pouco invenção sua
também; e eu te abraço, mesmo confuso frente à morte, porque sei que nada nos é
mais vivo do que o seu testemunho. Como Neruda, você poetinha nos confessou que
amou e viveu. Apaixonadamente.
E não esqueceremos você.
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