terça-feira, 30 de julho de 2013

Ela e água



O conteúdo do meu carinho sempre busca se expressar pela forma da poesia. Assustam-me os elementos de atração que me reúnem à sua presença. Além do inteiro da voz, está o seu fascínio pela natureza, a sua beleza em constância, a fala espelhando a integridade da mulher, a grandeza da artista. São de elevação os instantes em que lhe ouço cantar, em casa, no palco, na TV, em qualquer lugar, sua voz é uma espécie de termômetro que me indica alguma esperança à espera de mim em algum ponto deste mundo tão pequenininho.

Viajar é, muitas vezes, me abandonar em audições dos seus discos. Amo, Maria. Agradeço ao Universo por ter lhe trazido para o hoje dos brasileiros deste jeitinho nobre grave lindo... Amo em lotações que percorrem o meu vazio e melhoro se lhe escrevo depois de sentir a força cortante mas estimulante do seu ser entre nós. Campesinato e realeza, essa estrela que vejo brilhar do céu da minha eletrola e se amalgama aos mitos que alimentam a minha alma e me dão fé e coragem de prosseguir...

Aí, nesta ontológica saúde, está você, a mais importante cantora viva deste país.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Da noite para o silêncio

a noite me vestiu de ilusão,
me tomou de incertezas,
me calou da velha convicção.

e tudo foi o aceno do vento
me deixando noutro,
que de noite eu não via.

o outro já não persiste
nem nas alegorias amorosas
do que em mim,
só foi ilusão.

o outro que eu fui
me deixa agora
enternecer de fins...

e mesmo se me caminha,
ele não sou mais eu...
e a partir desta noite,

integralmente nos silencia.

domingo, 28 de julho de 2013

Nana Caymmi para a audição do mundo


Um deslumbramento Nana Caymmi. Aquela certeza dela de fazer tudo tão intenso e com a musicalidade impecável que aprendeu em casa. Aquele jeito da liberdade e de frente ao mundo: "eu digo mesmo".

O canto sem medo de diva não serenada, amada, marcada por suas histórias que se tornaram nossas histórias também; tudo pelas imagens de amor e paixão, de desenlace, de súplica, que ela traz na voz diamante.

O repertório intrigante, alusivo à dor, mas tão prazeroso, tão prazeroso, que se pode dizer: ouvir esta MPB é sofrer na alegria do êxito das canções. A presença de Nana é obrigatória para cenas musicais menos 'bundonas" e falsamente convencionais; ela incide no óbvio ( beber pra arrefecer ou argumentar) para combater o óbvio medo de amar. É de fogo, em vermelho, sangra, e espalha paixão.

Também é água, salgada, marítima...Venta como a divindade das tempestades e se assenta, umas vezes, no pior da gente, noutras, no melhor que se melhora...Assombro que é nosso, tão brasileiro, que se não houvesse a excelência de Maria Bethânia, eu não ouviria, por anos, mais nada, nem Billie Holiday - a maior do mundo de todos os tempos-, porque Nana é uma sede em continuação, a qual não se mata para que haja beleza deslizando sonoramente por nossas entranhas. Ela faz o rodopio da contradição estar bem/estar mal para desenhar com sua arte o enredo que melhor convence o ser humano: o de amar e ser amado, com os pés fora do chão, mesmo tendo que cantar depois, Contrato de separação.


País, não é para endeusar, é para respeitar com a alma e deixar cantar, pagar, mostrar a grandeza desta mulher, a enorme cantora que temos e podemos esfregar, com orgulho e fascínio, na audição do mundo.

sábado, 27 de julho de 2013

mar sábado

e hoje é sábado: 
ei de chorar com 
a voz do mar 
em meus ouvidos.

Cerne da ilusão


No cerne,
o olho da voz
fugidia fragrância
acendendo a dor
posta em saudade.

No cerne,
a voz do olho
chorando
o que custa
ficar pra trás...

Ainda que só seja
ilusão.


( dilacerado na vastidão de mim, após os assombros de Nana Caymmi; ouvindo Contrato de separação).

Nana em Salvador: recital a Caymmi



É um serviço de utilidade pública, se criar políticas culturais para incentivar, fomentar e realizar, na Bahia, o centenário de Dorival Caymmi. É uma honra sem mesuras, abrir aqui, na terra dele, estes festejos, com o canto emblemático, planetário, da carioca Nana, sua filha, uma das maiores cantoras vivas do mundo, que chega ao nosso Teatro Castro Alves, nos dias 27 (sábado, às 21h) e 28 (domingo, às 20h) com seu show que nos faz rememorar o maior compositor popular que este país conheceu.

Em 30 de abril de 2014, o patriarca da Bahia faria (faz) 100 anos. Muitos eventos foram pensados pela família, entre livros, CD, DVD, criação de uma Fundação que, cansadamente se sabe, deveria ser construída e funcionar entre nós, preservando o valioso legado material e imaterial do autor de João Valentão. Maior que ponte é a humanidade criativa de Caymmi; seus postulados estéticos, entre palavras e sonoridades, até hoje, nos retroalimentam economicamente. Vivemos, atualmente, desgastando as lindas imagens que ele pintou e idealizou sobre nós; ainda que com alguns prejuízos políticos, a obra de Caymmi é, como conceituou Antônio Risério, uma utopia de lugar. Este lugar é Bahia que nós baianos apagamos todos os dias, onde nem esquerda e nem direita consegue, em beleza e funcionalidade, superar.

E Nana Caymmi é o movimento sonoro da consagração artística de sua família. Um absurdo ver jogada a regras pútridas da indústria fonográfica, uma cantora desta estatura, tão brasileira, às vezes paralisada, subsumida frente aos fenômenos inexpressivos que atiçam a cultura de massa no Brasil.

Ela canta o repertório que a consagrou, algumas canções escritas pelo seu pai, e publiciza, de modo altivo, seu maior desejo: celebrar a memória daquele que se marcou com dendê e negritude, pescarias e atabaques, ladainhas e candomblés, chuvas e sereno, sol e tempestades, a bordo da sua imaginação nascida à beira da Baía de Todos os Santos.


Nana une sua voz diamante à voz trovoada do pai, para reensinar a nós, baianos: “não há sonho mais lindo do que sua terra”.

(Publicado no Jornal A Tarde, página 3, Caderno Opinião, Coordenação de Jary Cardoso)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Nana cantará em Salvador


E assim,
arrancam-me as palavras
e nada mais seria 
sob o signo destas.

Só um abraço em silêncio,
o gosto dos olhos olhando
dois se gostando...

Correntezas

Perguntas em mim
são correntezas
me arrastam contra tudo
ou a favor de tudo.

Da luz


A lua no céu de hoje
está um absurdo.

Como absurdo é
a falta de luz

no chão da existência
nos  marcando
aqui  embaixo.

Olhos castanhos


P/ Vércia Gonçalvez


Pela simples revelação
Da voz cometendo
Estesias feito
Letra em canção...

Combate a agonia
Anima o corpo
Convida a alegria
Faz chorar...

Nova diva
Sobre a mesa
Da especulação...

Alma grande
Dentro do canto
Furacão...

Esfoliamento sonoro
Limpeza sensorial
Tesão difuso...

Um Carnaval.

Pouso marítimo
Na terra dos lindos
Olhos castanhos.

domingo, 21 de julho de 2013

O símbolo e o dia


"Pouco antes do Ocidente se assombrar"


Eu falo de um tempo em que o amor era inocência, era ausência, presença, e a maior volúpia, além de apertar a mão, era ficar abraçado deitado no chão.

De um tempo de dor dourando poesia, risos em tardinhas do desencontrado desejo sob o sol da Cidade da Bahia, imagens marítimas, alma aflitiva, alegria por encontrar o olhar. A mão a espalhar livros pela casa.

Conversas sobre cinema. Sonhos do que não se sabia. Música para intensivos aprendizados, uma aberração tornada simetria pelo amor que ali dançava.

Tudo era dia 21 e uma Nova Cultura nascia... Outra ontologia para expressar a vida que se redesenhava: quase corpo num todo platônico. Até o vinho era órbita e obra de ficção. Não tinha razão, essa ideia foi reinventada pela emoção de querer encontrar.

O carinho na permissão. Quase quase quase. Tudo tão pouco e inconcluso vazando para a eternidade. A pintura de Monet, Lorca na fala e no coração.

Foram as ruas de Lisboa emolduradas pelas águas do mar da Bahia e pelas águas de nossas lágrimas no agridoce espelho dos olhos entreolhando-se.


Foi mas ainda será: enquanto as letras criativas em nossos dias instalarem literaturas e poesia, será! Se ainda, apesar desse inverno, o céu o mar a memória continuarem no azul que nos descreveu. Azul desta história eternidade.

sábado, 20 de julho de 2013

O raio de Iansã



Bethânia, sem, em mim, seria tudo vacância, falta da poesia que ela catalisa; inoperância cênica e musical brasileira; insuportáveis as variadas teorias, ai, isso de academias... Sem ela, meu olhar não insistiria na beleza e nem procuraria qualidade e nem desconfiaria destes todos sem charme. Maria!

Vércia Gonçalvez


Quero marcar-me daqui sobre a beleza que senti ao lhe ver ontem a favor da memória de Dona Quelé.

Marcar-me para não perder, da escuta e de vista, a raridade da sua voz; sua beleza no palco em consonância com a música, sua luminosidade agrupando-nos pela força translúcida e castanha do seu olhar.

Uma delícia que se inclina a marcar muitas cenas e transbordar beleza leveza enormidades.

Voz para adjetivos, positivos, como os nítidos elogios que ouço do seu amigo irmão Carlos Barros sobre o seu canto...

Obrigado por, pela música, me tirar de lembranças desencontradas e, em minutos, me fazer sentir inteiro para o gozo de tal felicidade.

A arte me liberta e me ilumina.

Sua arte me acerta e me torna ávido de sua presença solar no palco: tão especial, em força e nobreza, que dialoga com a experiência artística de Aracy de Almeida e de Maria Bethânia ( esta, fenômeno pra mim).


Caminho, querida! E simples e rara como só você, nessa terra, sabe ser!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Guian



Na brancura
da paz negra
deste dia.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

E digo

Troco os pés pelas mãos 
se for 
por minha liberdade

terça-feira, 16 de julho de 2013

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Maria Prado de Oliveira ( Vovó Lulu)




A ternura me ocupou ao assistir a chegada de Vovó Lulu. Ela, imponente sabedoria, em seu diálogo com o Divino, escancarou verdades, transmutou paisagens internas e externas, assentou-se em clichês, hipervalorizou humanismos, desafiou a tristeza pelo riso, mas também fez doer.

Não sei de regras teatrais, e ali, com ela em cena, era o que não queria saber: regras. A moralidade esteve presente para amparar a noção de coletividade que nos ocupa. Gostei das resoluções cênicas, gostei da trilha musicalidade, do corpo de baile uno em duplos e metamorfoses de nós em você. Grande atriz.

Perguntei sobre mim na vida e chorei. De tristeza. De alegria. De gratidão. A poesia em sua mão sangrando Pessoa Cora Clarice... Eu em Clarice recebendo a beleza da sua ação artística, numa investida de paz, apesar da guerra textual ali assistida. Guerra pela paz, tal como meu Pai Oxoguian. Aquele escuro era tão branco, como seu Pai Oxolufã.

Foi uma noite lenta na minha ansiedade de tudo dar certo. E como dá certo o seu amor pela arte. Como sua voz retumba forte fazendo carinho. Como preciso é o seu movimento, mesmo que perfil cênico de conhecidos clichês. Você se repete para ser a sua razão de dizer o que quer. Nesse mote, me traz Maria Bethânia.

Foi uma noite de velocidade e minhas lágrimas me lavaram. Eu tenho que envelhecer tendo o frescor de Vovó Lulu, e tendo a coragem do diálogo real com Deus. Com Iemanjá.

Só posso lhe escrever em público. Como dosar tão bem talento e generosidade?

Vovó Lulu me empurrou para um final de semana amoroso. E do palco lindo do Xisto, com minha amiga Bel, saí sem saber o que fazer. Nossas conversas são ali. Suas lições estão em mim. E eu danço como Nietzsche entre a profunda loucura e a mais sensacional das levezas, voando a favor da sabedoria.

Talvez nem seja Nietzsche. Nem Deus também. Seja meu corpo de espectador e admirador vivendo 55 minutos de um espetáculo, tão simples, mas tão simples, que me calou e me fez chorar em reverência à vida.

Mudança


Por horinhas tenho a companhia da leveza. Esses dias de abandono de algumas responsabilidades me trouxeram outras possibilidades de estar na vida. Algo momentâneo porque, antes de tudo, sou eu para fazer e para gozar o que vier.

É uma leveza clariceana, é verdade. Mas está no corpo, começou no corpo, me deixou no corpo.

Um pouco de sonhos estendidos de sábado para agora. Ventila. Muda.

Mudar é o sentido de existir; vivenciar isso aqui: um pouco de sorte, vontade, coragem e o necessário sabor; o necessário amor.

Um pouco de leveza.

Merci, meu Deus!

Nietzsche


Me quero louco
Me quero dançando
Me quero voando

domingo, 14 de julho de 2013

Alegria 21


Deve ser este lugar, o da alegria, o do encontro, o mais habitável de todos... Deve florescer da esperança, ou quem sabe, da espera sem expectativa. Mas acontece, às vezes acontece: e eu trago o meu sorriso para o espelho, para o público, para o Facebook.

Esse domingo foi sábado!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Beleza



Atiçar belezas,
aqui,
enfeitando.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Errando

Você me enquadra.
Eu em triângulo
mil planos
e nada de acertar.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Era amor


Sem querer cessar,
Sem acertar rumos,
Sem sentenciar.

É o inconcluso.

Esse mundo receio
Tão cheio de tudo
Entre o óbvio,
O profundo,
Vazando notícias
Na gente.

Áspera beleza
Povoando o tempo.
Vento à diáspora
Do que escapa
Como memória
E era amor.