Um deslumbramento Nana Caymmi. Aquela certeza dela de fazer tudo
tão intenso e com a musicalidade impecável que aprendeu em casa. Aquele jeito
da liberdade e de frente ao mundo: "eu digo mesmo".
O canto sem medo de diva não serenada, amada, marcada por suas
histórias que se tornaram nossas histórias também; tudo pelas imagens de amor e
paixão, de desenlace, de súplica, que ela traz na voz diamante.
O repertório intrigante, alusivo à dor, mas tão prazeroso, tão
prazeroso, que se pode dizer: ouvir esta MPB é sofrer na alegria do êxito das
canções. A presença de Nana é obrigatória para cenas musicais menos
'bundonas" e falsamente convencionais; ela incide no óbvio ( beber pra
arrefecer ou argumentar) para combater o óbvio medo de amar. É de fogo, em
vermelho, sangra, e espalha paixão.
Também é água, salgada, marítima...Venta como a divindade das
tempestades e se assenta, umas vezes, no pior da gente, noutras, no melhor que
se melhora...Assombro que é nosso, tão brasileiro, que se não houvesse a
excelência de Maria Bethânia, eu não ouviria, por anos, mais nada, nem Billie
Holiday - a maior do mundo de todos os tempos-, porque Nana é uma sede em
continuação, a qual não se mata para que haja beleza deslizando sonoramente por
nossas entranhas. Ela faz o rodopio da contradição estar bem/estar mal para
desenhar com sua arte o enredo que melhor convence o ser humano: o de amar e
ser amado, com os pés fora do chão, mesmo tendo que cantar depois, Contrato de
separação.
País, não é para endeusar, é para respeitar com a alma e deixar
cantar, pagar, mostrar a grandeza desta mulher, a enorme cantora que temos e
podemos esfregar, com orgulho e fascínio, na audição do mundo.
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