Há na simbologia dos chamados candomblés de caboclos, para
além de toda uma resistência contra a invisibilidade gerada também pelo
nagocentrismo, que consiste em valorizar tão somente as tradições tidas como de
origem iorubana, a alegria de festejar a vida de humanos com seus seres
encantados, com o samba, a dança, o fumo, a cerveja preta, a Jurema, as frutas,
o passe, a fala, as cantigas de sotaque e o abraço quase sempre de bom coração.
Acirrando uma aproximação que é vital para quem pratica alguma das religiões
afro-brasileiras.
Os caboclos são seres encantados advindos das culturas
indígenas brasileiras que se misturaram aos encantados de origem africana e,
aqui, no Brasil, fixaram-se no imaginário do povo negro-mestiço pertencente ao
candomblé. A abertura dos congo-angola, numa grande sinalização de grandeza
espiritual e política, foi fundamental para que esta prática chegasse até os
tempos atuais e pudéssemos assim, celebrar a nossa ancestralidade indígena.
O Dois de Julho é a data maior da nossa configuração como
povo, elemento fundante que aglutina populares para se orgulharem de sua
capacidade de luta e transformação, e, por questões históricas, foi marcada
pelo símbolo do Caboclo e da Cabocla, senhores representacionais que
identificam estes populares nascidos na Bahia.
É no Dois de Julho, que terreiros baluartes para o culto dos
caboclos tocam sem vergonham e esconderijos, e celebram a memória e a presença
desses seres entre nós: no Tumbenci, de mãe Zulmira; no Mokambo, de Pai Anselmo;
do Ibomin, de mãe Odalici de Odé; do São Jorge da Gomeia, de mãe Lúcia; para não falar
dos mais antigos que, se não tocam neste dia, celebram constantemente essas
entidades. No caso, o Bate Folha deve ser destacado como o mais antigo em
atividade, a festejar os caboclos no Dois de Julho.
Neste dia, as ruas da Cidade da Bahia se vestem de verde e
amarelo, e muitos terreiros também, aspirando a força indígena que marca nosso
sangue, nossa cultura, nossa história. É como o entoar do cântico antropológico
de Maria Bethânia, no disco Encanteria,
saudando: Chetuá!
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