segunda-feira, 1 de julho de 2013

2 de Julho é Chetuá



 Há na simbologia dos chamados candomblés de caboclos, para além de toda uma resistência contra a invisibilidade gerada também pelo nagocentrismo, que consiste em valorizar tão somente as tradições tidas como de origem iorubana, a alegria de festejar a vida de humanos com seus seres encantados, com o samba, a dança, o fumo, a cerveja preta, a Jurema, as frutas, o passe, a fala, as cantigas de sotaque e o abraço quase sempre de bom coração. Acirrando uma aproximação que é vital para quem pratica alguma das religiões afro-brasileiras.

Os caboclos são seres encantados advindos das culturas indígenas brasileiras que se misturaram aos encantados de origem africana e, aqui, no Brasil, fixaram-se no imaginário do povo negro-mestiço pertencente ao candomblé. A abertura dos congo-angola, numa grande sinalização de grandeza espiritual e política, foi fundamental para que esta prática chegasse até os tempos atuais e pudéssemos assim, celebrar a nossa ancestralidade indígena.

O Dois de Julho é a data maior da nossa configuração como povo, elemento fundante que aglutina populares para se orgulharem de sua capacidade de luta e transformação, e, por questões históricas, foi marcada pelo símbolo do Caboclo e da Cabocla, senhores representacionais que identificam estes populares nascidos na Bahia.

É no Dois de Julho, que terreiros baluartes para o culto dos caboclos tocam sem vergonham e esconderijos, e celebram a memória e a presença desses seres entre nós: no Tumbenci, de mãe Zulmira; no Mokambo, de Pai Anselmo; do Ibomin, de mãe Odalici de Odé; do São Jorge da Gomeia, de mãe Lúcia; para não falar dos mais antigos que, se não tocam neste dia, celebram constantemente essas entidades. No caso, o Bate Folha deve ser destacado como o mais antigo em atividade, a festejar os caboclos no Dois de Julho.


Neste dia, as ruas da Cidade da Bahia se vestem de verde e amarelo, e muitos terreiros também, aspirando a força indígena que marca nosso sangue, nossa cultura, nossa história. É como o entoar do cântico antropológico de Maria Bethânia, no disco Encanteria, saudando: Chetuá!

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