É um serviço de utilidade pública, se criar políticas
culturais para incentivar, fomentar e realizar, na Bahia, o centenário de
Dorival Caymmi. É uma honra sem mesuras, abrir aqui, na terra dele, estes
festejos, com o canto emblemático, planetário, da carioca Nana, sua filha, uma
das maiores cantoras vivas do mundo, que chega ao nosso Teatro Castro Alves,
nos dias 27 (sábado, às 21h) e 28 (domingo, às 20h) com seu show que nos faz
rememorar o maior compositor popular que este país conheceu.
Em 30 de abril de 2014, o patriarca da Bahia faria (faz) 100
anos. Muitos eventos foram pensados pela família, entre livros, CD, DVD,
criação de uma Fundação que, cansadamente se sabe, deveria ser construída e
funcionar entre nós, preservando o valioso legado material e imaterial do autor
de João Valentão. Maior que ponte é a humanidade criativa de Caymmi; seus
postulados estéticos, entre palavras e sonoridades, até hoje, nos retroalimentam
economicamente. Vivemos, atualmente, desgastando as lindas imagens que ele
pintou e idealizou sobre nós; ainda que com alguns prejuízos políticos, a obra
de Caymmi é, como conceituou Antônio Risério, uma utopia de lugar. Este lugar é
Bahia que nós baianos apagamos todos os dias, onde nem esquerda e nem direita
consegue, em beleza e funcionalidade, superar.
E Nana Caymmi é o movimento sonoro da consagração artística
de sua família. Um absurdo ver jogada a regras pútridas da indústria
fonográfica, uma cantora desta estatura, tão brasileira, às vezes paralisada,
subsumida frente aos fenômenos inexpressivos que atiçam a cultura de massa no
Brasil.
Ela canta o repertório que a consagrou, algumas canções escritas
pelo seu pai, e publiciza, de modo altivo, seu maior desejo: celebrar a memória
daquele que se marcou com dendê e negritude, pescarias e atabaques, ladainhas e
candomblés, chuvas e sereno, sol e tempestades, a bordo da sua imaginação nascida
à beira da Baía de Todos os Santos.
Nana une sua voz diamante à voz trovoada do pai, para
reensinar a nós, baianos: “não há sonho mais lindo do que sua terra”.
(Publicado no Jornal A Tarde, página 3, Caderno Opinião, Coordenação de Jary Cardoso)
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