sábado, 27 de julho de 2013

Nana em Salvador: recital a Caymmi



É um serviço de utilidade pública, se criar políticas culturais para incentivar, fomentar e realizar, na Bahia, o centenário de Dorival Caymmi. É uma honra sem mesuras, abrir aqui, na terra dele, estes festejos, com o canto emblemático, planetário, da carioca Nana, sua filha, uma das maiores cantoras vivas do mundo, que chega ao nosso Teatro Castro Alves, nos dias 27 (sábado, às 21h) e 28 (domingo, às 20h) com seu show que nos faz rememorar o maior compositor popular que este país conheceu.

Em 30 de abril de 2014, o patriarca da Bahia faria (faz) 100 anos. Muitos eventos foram pensados pela família, entre livros, CD, DVD, criação de uma Fundação que, cansadamente se sabe, deveria ser construída e funcionar entre nós, preservando o valioso legado material e imaterial do autor de João Valentão. Maior que ponte é a humanidade criativa de Caymmi; seus postulados estéticos, entre palavras e sonoridades, até hoje, nos retroalimentam economicamente. Vivemos, atualmente, desgastando as lindas imagens que ele pintou e idealizou sobre nós; ainda que com alguns prejuízos políticos, a obra de Caymmi é, como conceituou Antônio Risério, uma utopia de lugar. Este lugar é Bahia que nós baianos apagamos todos os dias, onde nem esquerda e nem direita consegue, em beleza e funcionalidade, superar.

E Nana Caymmi é o movimento sonoro da consagração artística de sua família. Um absurdo ver jogada a regras pútridas da indústria fonográfica, uma cantora desta estatura, tão brasileira, às vezes paralisada, subsumida frente aos fenômenos inexpressivos que atiçam a cultura de massa no Brasil.

Ela canta o repertório que a consagrou, algumas canções escritas pelo seu pai, e publiciza, de modo altivo, seu maior desejo: celebrar a memória daquele que se marcou com dendê e negritude, pescarias e atabaques, ladainhas e candomblés, chuvas e sereno, sol e tempestades, a bordo da sua imaginação nascida à beira da Baía de Todos os Santos.


Nana une sua voz diamante à voz trovoada do pai, para reensinar a nós, baianos: “não há sonho mais lindo do que sua terra”.

(Publicado no Jornal A Tarde, página 3, Caderno Opinião, Coordenação de Jary Cardoso)

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