terça-feira, 15 de julho de 2008

Casa do silêncio

É assim que amanheço e nutro-me da vontade de existir. Ao ver a luz do sol no mar, ao andar pela areia lançando-me à força da maresia. Nem que seja em pensamento. Nem que seja me permitindo a miragens que me tragam esperança e me revelem à beleza. Os olhos que trago em mim são receptáculos do silêncio, cuidam do meu mistério alimentando a saudade do que é vivo, mas não está e eu sigo. Vestido de castanho e cheirando a suor alheio esvaindo-me pelo vento à beira-mar. Quando estou mais sozinho é quando estou na verve da melhor companhia. Dialogo com a Deusa. Encontro a Rainha. Olho-me em mil imagens minhas refletidas no translúcido salgado das águas. Sinto que tenho vida e ela me vem pelos olhos. Sou excesso de doçura sentindo debaixo do sol um pouco de frio. Meu caminho é um nome escrito em um apócrifo. Um nome remoto em sílabas e letras que eu jamais saberei juntar. Mas eu sinto. Aceito. E amo. Como o mar – que vejo em lindeza e incompreensão. Amo inscrito na noção, em qualquer idioma, que homens e deuses ergueram para exprimir eternidade. E talvez, seja nisso que esteja o teor contínuo desse desejo que trago comigo até quando eu voltar a ser água.

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