terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cláudia Cunha: do ventre das sereias para a Bahia


Ela foi feita pelos deuses da delicadeza que a ensinaram a cantar. Sua presença nos anima a olhar para as estrelas e a ouvir música por dentro do nosso silêncio para nos curar dos danos barulhentos dessa urbanidade sem controle. Tudo é mínimo em seu canto gigante para que quem a ouvir reaprenda a descobrir o mundo. Seu jeito brejeiro amanhece os olhares nos convidando a conhecer a mulher em seus mistérios e desejos e, mesmo sem poder conhecer, a contentar-se com o fascínio que a sedução imputa.
A sedução advém da voz cristalina espalhando sensações de frescor em nossa audição. O palco se ilumina daquela energia água e a musa contemporânea cretense baiana paraense desagua magnetismos e inspiração para quem busca recriar a vida.
Ao longe, sua voz venta bons presságios. De perto, arrepia a alma e faz o corpo adormecer para gozar dos sonhos.
Nem tudo é alívio ali, tampouco só água. Ela traz dor e imaginação, sua voz desperta as difíceis saudades e quem já amou, ou ama, sofre; quem nunca amou vive musicalmente a tragédia da existência nos desertos. Ela segue gerando fogo para que os poetas se esmerem e cumpram sua condenação frente às palavras.
Sua ação artística é certeira quando no palco tudo se organiza ao comando da sua presença indecifravelmente doce... E a moça canta dança convida... Faz a roda mágica da vida pedindo festa... Tem sentido o cantar vindo daquela garganta, a arte dali é esperança, e todos podem se divertir, aprender, chorar, rasgar-se e sorrir.
A delicadeza dos deuses nos permitiu essa menina linda caminhando pelas ruas sujas daqui... Aqui na mágica e abandonada Cidade da Bahia, onde privilegiados ouvidos podem ser tocados pela grande cantora de perto, e assim, os olhos também são agraciados.

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