sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Por um pouco de alegria

"E o que o homem acreditou ver viram meus olhos videntes!"
Rimbaud
E me era eu sem possibilidades de vislumbres; andava cansado das gentes em suas falas de regras e sucesso. Queria alcançar o mundo fora de mim. Me ter em outras cidades acima do idioma falado. Fazer perguntas absurdas e serenar entre pratos e espetáculos frente à grandeza que sobressai no humano. Queria tela de cinema e filme godardiano para ter direito de não entender nada e dizer isso a todos. Uma roupa preta me vestindo na madrugada, um chopp em um país europeu gelado e eu gozando da solidão instantes em minha própria companhia.

Queria o exercício da vidência dentro de mim e voar feito águia: a beleza dos céus tropicais e os mares da costa italiana. Queria fincar-me no âmago orixá africano: morar em Abeokutá, Ilê-Ifé e depois, me perder de mim na cidade de Nova Iorque. Bem aprendiz de quem cantou este tempo pra mim...

E essa sede de vislumbrar. Vê os sonhos sendo. Sendo-me o revés da rebeldia. Voltando à crença, à poesia que me atormenta todas as manhãs.

Eu queria deixar-me em palavras, numa função de estesia, para que muitos vissem o que vejo sangrando dentro de mim. É maior que a morte. É a danação de uma vida puramente etérea.

É o que sangra mas sangra de alegria.

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