"com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas, e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele"
Clarice Lispector
O senhor que abriga a Senhora de mim. Espetáculo diário para meus olhos que procuram e encontram. Aquele cheiro que me acompanha a onde eu for. Fascínio descrito na sensação de viver com estando sem. Luminosidade que desperta o terror mas o medo não vence. Do cinza mais triste ao azul da minha adoração: eis o mar unido a mim. Eis-me fazendo silêncio frente a ele; eis-me me consolando do mundo terrestre que me exaure e confunde, indo por passagens secretas ao centro do mundo marinho. Ondas que me curam, me esfregam, me excitam, me governam e eu aceito. Sou filho-irmão daquele lugar onde tudo é vida. Ali minha paz é verde. Me tenho com peixes e as sereias cantam para mim. Me alimento de imensidão em acordo com o que não compreendo. O mar me anima a entender os meus irmãos que vivem sobre terra. Na água eu danço dentro da beleza e recupero o sal que me tiram. Cotidiana novidade é amar o mar. Leveza e inocência no mais estratégico senso de proteção. O mar me ensina - eu que não aprendi a pescar; me ensina a poesia que domina meu interior, me ensina a sonhar. Minha espécie de pão mais rara, o mais límpido presente que o Universo me pôde dar. Mar de mim, sagração e prazer carnal, luz sobre meu destino, sentido e morada.
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