sexta-feira, 4 de março de 2011

Daniela Mercury: jus ao título de rainha



Um tecido pérola negra. A voz andarilha de uma chefe da folia com necessários traços educativos. Ela canta e dança na certeza de quem instaura beleza no Carnaval. E sai a favor do povo, dialogando com o mercado e os intelectuais, entre camarotes e cordas, se faz sem-cordas para dizer que na Bahia também se inventa. Sem isso de rainha, ela é única na asserção do termo, uma majestade inviolável e para além das antipatias que pode causar. Repertório amalgâmico esculpido na tradição escolar tropicalista, reverente aos mestres absolutos - de Tom Zé a Gilberto Gil, passando por Chico Buarque e Luiz Gonzaga, aportando no mar Lenine, devorando o melhor contemporâneo que a música popular nos dá - , ela faz o tal do Axé tremeluzindo a bandeira da qualidade. Meio Carmem Miranda e Baby Consuelo, naquela emissão sem igual que registra Márcia Short, Daniela bebeu nessas fontes. Assim como: quanto a princesa Ivete Sangalo deve a rainha Daniela Mercury?
Um tecido branco e azul reunindo diversidades e cantando para os membros do "amor que não ousa dizer o nome", sem reticências, nem titubeares; diva complexa como tem que ser as artistas de verdade. Uma presença iluminada no Carnaval de Salvador, com tanta vontade de novidade, sem perder a graça da festa, da molecagem, da brincadeira, na medida certa de alguém que respeita a inteligência alheia. Faíscas da beleza que persigo; doses de feitiço daquela que mexe com nosso corpo inteiro nos levando a gozos e pensamentos. Daniela é à maneira da fruição. Trocas simbólicas da Bahia com o mundo. Canibália espetacular - circularidade de uma voz nascida para o negro Carnaval deste lugar e que ela espreita precisa ,com fé e Ilê Aiyê, sem macular o universo de quem gesta nossa musicalidade...
Cantora trieletrizada que compõe de verdade. A melhor companhia feminina nessa seara desgastante que se tornou o Carnaval da Bahia...
Um tempo para que se dê mais espaços à grandeza de Márcia Short; a beleza do Carnaval do 3naFolia; a lindeza de Juliana Ribeiro; aos passeios loucos da autoridade maior Baby Consuelo; a força do canto da outra diva de verdade, a princesa Margareth Menezes.
Daniela Mercury traz consigo tudo isso: e a gente aprende que o melhor da gente, depois de Fé e Amor, é Arte.

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