domingo, 4 de setembro de 2011

Do avesso

"Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim"
Renato Russo


Dos começos rodando a cidade. Do palavrório como insitência e o cheiro de álcool no travesseiro. Isso de se ver ao espelho pelo avesso do avesso do que nunca se sonhou ser. E o mundo mais próximo cheio de frio. A vontade de desbravar as violentas verdades, enfrentar o frio, se ter muito frio e aceitar o seu convite de prazer.

Dos recomeços diários e as vãs explicações  nessa vontade do impossível de apagar uma história, evitar todos os erros; isso de ser um relato inventado, dar nobreza à mentira, seguir incólume como um deus ou outro ser encantado. Isso de buscar a mão do mar e  os braços do silêncio.

É mais um dia que trouxe um corpo no sonho. O mais do mesmo que mora em mim. Meus olhos à  porta de entrada de outra vida estendendidos como se fossem mãos. E o que fora ainda é no marulho das águas da baía - lembranças do mais delicado prescritas nos lençóis azuis da espera.

E o tempo que ensina mas sangra e a torpeza dos que só sabem doer. Lá dentro do avesso do avesso ao espelho: tem um visgo imagem de alegria. É o sentido maior. Uma espécie de respingo que põe a vida a valer. A mão tocando o rosto, versos saídos da boca bailando no ar, escritos em qualquer papel, horas com calma, risos de dentro, desenhos da alma, canções comovendo, banhos marítimos, o corpo entre chuva e sol, descansos verdejantes, entressafras emocionais... Por fim:  sonhos realizando-se.

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