Gal na Morada dos Cardeais ( São Salvador da Bahia)
MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA) (Folha de São Paulo)
No meio da década de 1970, Gal Costa estava em processo de transição. A estética experimental e psicodélica que pontuou seus primeiros álbuns solo já se esgotava, abrindo caminho para que a "grande cantora", em termos técnicos e formais, tomasse a cena.São desse período os hoje clássicos álbuns "Índia" (1973), "Cantar" (1974) e "Gal Canta Caymmi" (1976), que renderam então encenações igualmente antológicas. Pois os áudios originais desses shows acabam de ser descobertos nos arquivos da Universal, estão em fase de tratamento e devem ser editados em CD no próximo ano.Quem encontrou o material foi o pesquisador Rodrigo Faour, que buscava faixas raras da cantora para compor uma coletânea.
"Acho que ainda tem mais coisa por lá. Estamos investigando a possibilidade de um quarto show no pacote."Musicalmente, o material é impecável. "Índia", o show, tinha direção musical de Gilberto Gil e uma banda que incluía Dominguinhos, Toninho Horta, Chico Batera e Robertinho Silva. "Cantar" unia Gal e João Donato em uma série de duelos memoráveis que a cantora nunca registou em disco.A versão ao vivo de "Gal Canta Caymmi" é especialmente impressionante. Foi registrada, segundo Faour, na estreia do show, no Palácio das Convenções do Anhembi (SP).
Gal divide cena com Dorival Caymmi (1914-2008) -o que torna a descoberta ainda mais valiosa.Gal ainda não sabia da existência das faixas quando recebeu a Folha no apartamento onde mora, em Salvador.Lembrou-se de que Caetano Veloso queria dirigir "Índia", o show e o disco, em 73. Mas não conseguiu sair da Bahia. "Acho que a preguiça pegou ele", disse. "Mas mandou ideias numa fita cassete. A inclusão da canção "Índia" foi sugestão dele."Contou também que "Drume Negrinha" foi feita por Caetano especialmente para Gal apresentar no show "Cantar". "Era homenagem a Preta [Gil], minha afilhada que tinha acabado de nascer."É essa mesma música que Gal, 64, canta hoje para ninar o filho Gabriel, 5, adotado em 2007.
"Adoro cantar para ele dormir", diz. "Meu canto fica tão puro que volto para o começo, revisito meu passado, a infância, revejo minha mãe.""Não sei como é parir um filho, mas entendi que isso não importa", diz. "Ele me rejuvenesce a cada dia e toda essa transformação certamente vai aparecer na minha música."
P.S.: Retirado do Blogbar do Fontana. Deverá ser diamante sonoro puramente lapidado.
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