sexta-feira, 26 de março de 2010

Deste lugar


Cada um de nós está no seu lugar, eu me submeto bem ao meu lugar.
Clarice Lispector
Um livro resumido a uma página. Mil perguntas vãs, certezas em desperdício,vontade de gritar o nome; lugar sem seguridade; instância inócua de uma escrita imprecisa sem rota sem hora sem destinatário... Livro em suspeição beirando a maldição do barulho. Muita reflexão. Raios cruéis da razão postulando o óbvio cotidiano. O mundo acima de pesado. Barulho. Era dele a palavra mais suave. Os dias de sol e frio. O frio da alma sem nunca se aquecer. O desajuste. Corpo sem espaço numa língua que corta a própria carne. A consolidação da solidão. Deixa diurna para textos teatrais. O sexo à margem na calada das noites. Ensaios acadêmicos. O mundo tosco girando absoluto contra o mundo inspirado. Silêncio indesejado. Página branca da saudade. A vida lânguida pedinte e sem coragem. Danças eróticas vistas da janela. Sexo sem beijo na boca. A roupa que não veste. O corpo que não se despe. Teatrinho inglório. A esperança gastada. Os olhos dele eram do castanho mais nobre. Centro da doçura buscada. Olhos castanhos. Uma música arranhão da memória. Cantata repetida. A língua se autoflagelando. Caminhada e falta de respiração. Da ida nele a prisão... Nada de lugares cabíveis; nada de saber sobre o próprio tamanho... Tudo para o desajuste pois, a vida é muito além daqui e dali. Está por detrás de nós nos tendo junto na eterna primavera de alguma colorida paisagem. O livro em única página delatando a tônica da indelével saudade.
Marlon Marcos

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