Ao longe, a voz de Caetano, como se estivesse me abrindo portas, entoava faço no tempo soar minha sílaba; e eu, menos inerência que aderência, seguia esse som naquilo que ele me dizia: manhã. Tanto menos para falar de poesia, eu precisava falar de amor. Essa sangria dentro deste palavrório, esta palavrinha amor, a partir de Caetano Veloso.
Portas para o desconhecido. Um vinho me embriagando no domingo chuvoso: experiência das piores. Mas o desconhecido. A camisa bela amarela para dissolver a sensação de vazio; para chamar o sol. O desconhecido traria algo de bom? No pior que eu sentia, tinha alívio na ideia da esperança no meu esperado bom... Ligar ou não ligar? Minha mais profunda confusão.
Se soubesse desenhar, um quadro eu faria a representar formas do desejo que me ocupa e numa árvore imaginária, numa rua de Amaralina, eu me exporia no quadro que pintei para falar de amor.
Tanto tempo brada dentro de mim. Eu sempre do avesso. Aquele poema de Hilst se tornou, em mim, ingênuo. Os ciprestes não me atraem e meu coração foi sangrado maltratado esquecido milhões de vezes... A voz de Caetano, logo Caetano, noutras palavras sou muito romântico.
Nenhuma porta aberta. O senão impõe-se como destino. Ah, se eu soubesse desenhar e pudesse morar em Nova Iorque. Se tivesse coragem de me largar para longe do esteio que me expulsa e minha cidade, eu com alguma riqueza, fosse a poltrona de um avião.
O rosto de Caetano, aquela imagem é manifestação de amor em mim; algo do que não se escapa e nem se quer escapar... Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior.
Ao longe, a música acaba, e acaba minha alegria também.
Falaria de portas se elas hoje existissem, se se abrissem para levar-me ao encontro, se me ligassem ao sim da existência, se me pusessem na rota giratória do prazer acontecendo... Billie Holiday, como eu, gemendo em nome da fruição que, às vezes, chega sem dor.
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