sábado, 16 de abril de 2011

Cabíria

Giulieta Masina


"Aquela cara é o coração de Jesus"



Cabíria. Mesmo quando eu não vi, eu vi. Lágrimas transmutando-se em sangue nessa história da vida a discordar do seu maior sentido: amor. Negar. Das roupas pretas à cara coração de Jesus e a existência a investigar as várias formas da solidão. O medo era fotografia: eu não vi; senti os dentes e o escárnio. Me perdi entre o pedido veemente e os olhos de beleza e dor de Cabíria... Era a tela ou eram nela os meus próprios olhos? Deserção - momento que cinema é só sofrimento e a gente não para e segue por entre os espinhos que vibram assim.
Aquela cara coroa todas as dores e é a mais linda no desenho delicado dos mestres. Segmento da grandeza de uma atriz - ou será a estúpida beleza da puta em cenas da alma que pede?
Cabíria, eu não vi. Há tempos que não consigo alcançar o peso inexato das melhores narrativas. Perdão, eu não vi. Meus olhos estão presos ao antídoto contra a eterna novidade. Minha alma não se atiça e vaga sem piedade entre os moldes medíocres do bem-estar. Me falta tanto você. Cabíria Masina na beleza estranha da canção e na película que não consigo ver.

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