sexta-feira, 20 de julho de 2012

Transe




                                           "É doce morrer no mar
                                             Nas ondas verdes do mar"
                                                                  Caymmi

         Marulha-se o pensamento, rondando o espaço percebido pelo olhar, indo pelo vento esbarrar-se nas "ondas verdes do mar". Indo afogar-se na imensidão de uma procura, banhar-se na luz manhã de um sábado - entre rosas e preces - trazido do fundo fosco da duradoura esperança.
         
        Sobrevoa o instante o pensamento marcando imagens da realização. dominando a certeza, a emoção noutra forma invada-se numa saga onírica,e sobre pedras e sereias, os pés-asas sujos de areia alcançam às mãos do sonho em silêncio. Pensamento ao desejo, ventando manhãs numa manhã de praia; pensamento-olhares aos falares das conchas dos quizos dos búzios dos seixos dos ares, marca do segredo, para tudo que refaz a saudade e instaura o medo.
         
        Deserto aquático engrandecido pelo universo do pensamento, calado e colado nas asas dos pés,se indo,sem destino, na vaga estreita de uma incerteza, um surto emotivo, qualificado como distância. Na espessura amarga da água, a sensação da presença límpida da vida. Um tímido sol minimizando o transe.O tímido sol desenhando no horizonte que ultrapassa o olhar do pensamento.
          A órbita do silêncio atingindo todos os lugares.
          Uma paisagem verde-azul e branca, colorindo a fuga perfumada pela imaginação. A força do oculto: o que emana de fora para dentro d'água e respinga no corpo como resposta.
          O afogamento. A claridade azulada da água. O cheiro-alfazema do salitre na maresia às narinas do pensamento para possibilitar o consolo,
           A visita delgada da  Mãe-mulher, a irmandade com os peixes, a morosidade dos segundos devastando do peito a reserva das lágrimas...O carinho feito pela mão da Mãe-mulher no esparrame das águas sobre as pedras.
           A chegada do barulho para despertar o coração. A claridade rosa das águas aliviando pelos olhos a tensão deixada pela posse da consciência.
           Fragamentos da divina presença: toques sagrados à distância, danças ondulares, saudações iorubanas, músicas, verdades... A vontade atingida pela FÉ erigida para que se alcance o fruto-marulho no âmago do pensamento.
           A imagem da Mãe que se impregna no corpo do homem que sai louvando a  Mulher.

          Iyá Ogunté mi Odô Iyá!

                                         Marlon Marcos.

     P.S: Depois de contemplar o "mar" de Cachoeira em seu rio de tanta saudade...Que chegue Setembro.

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