segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Aila Menezes: um leque aberto para a vida




Ela, de fato, ainda é uma menina. Um amálgama de sentidos que nos convida a prestar atenção nela. Doce e aguerrida. Principiante e experiente. Decidida e assustada. Mas, no somatório de tudo, ela ratifica-se: é talentosa.

Aila Menezes, 25 anos, nasceu em Salvador da Bahia, temperada por uma mistura étnica que não a afastou da negritude que impera nesta cidade. Neta do patrimônio cultural baiano, o palhaço Pinduca, a menina (a quero assim) nasceu para singrar palcos e rodopiar possibilidades artísticas, numa capacidade ímpar, só vista em nomes como Daniela Mercury, Madonna, Carmem Miranda (citando as mais representativas), de juntar a dança ao canto, pousando, por vezes, na dramaturgia como pede o seu destino de cantriz.

Sua expressão artística agrega-se à abertura do leque: novelo de feminilidade, norte de iyabás, diversidade comunicativa; o leque é a marca registrada da menina que sabe cantar, dançar, representar, falar, convencer, atrair e nos representar.

Nada nela é inovador se um olhar diacrônico escrever sua história: os gestos lembram às vezes Daniela, outras Márcia Freire, algumas vezes Madonna; reverencia, no canto, as maiores cantoras brasileiras como Carmem Miranda, Emilinha Borba, Elis Regina, Clara Nunes, Alcione, Gal Costa e, claro, Maria Bethânia.

Algumas estridências são cometidas, quando à sua maneira, ela se esquece do ser cantora e vira animadora de trio, outra grande possibilidade sua no cenário cultural baiano.

Mas ela pode mais. Pode durar como artista se amansar a voz, ajustando-a à beleza que lhe é, à doçura que convida, e ao timbre claro alcançado por vozes límpidas como a de Ivete Sangalo, mesmo que por vezes desperdiçado.

Aila tem uma grande torcida e um vigor enorme para Pop Star: doa em quem doer, é mais talentosa que Cláudia Leitte e pode servir como produto-novidade para as políticas de reabastecimento da nossa indústria cultural. Para mim, este fato seria um crime contra as possibilidades artísticas para quem nasceu e foi educada e incentivada, familiarmente, para ser artista.

Uma delícia ver Aila no palco: ora brincando ora sendo aquilo que já é. Suas escolhas políticas a fizeram, como La Mercury, a levantar bandeiras a favor das diversidades, ao direito do amor livre e independente de marcas sexuais; uma postura avançada para quem, de verdade, tem a identidade sexual circunscrita no que chamaríamos de heterossexualidade. A menina enlouquece os gays pelo país afora.

Aila Menezes é baixinha, cheinha do tipo Madonna anos 80; desliza como tem que ser; promove estridências desnecessárias ( algumas de suas mestras não saem do trio); está assustada com o cenário de fama que se aproxima; posta nos redemoinhos das opiniões – ela só será se se guiar pela força do talento para o palco e, assim, ouvir a própria intuição e a voz das pessoas que a amam antes dela ser Aila Menezes aqui ou acolá.


Marlon Marcos é antropólogo e jornalista ( DRT- BA 2235)

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