Ela, de fato, ainda é uma menina.
Um amálgama de sentidos que nos convida a prestar atenção nela. Doce e aguerrida.
Principiante e experiente. Decidida e assustada. Mas, no somatório de tudo, ela
ratifica-se: é talentosa.
Aila Menezes, 25 anos, nasceu em
Salvador da Bahia, temperada por uma mistura étnica que não a afastou da
negritude que impera nesta cidade. Neta do patrimônio cultural baiano, o
palhaço Pinduca, a menina (a quero assim) nasceu para singrar palcos e rodopiar
possibilidades artísticas, numa capacidade ímpar, só vista em nomes como
Daniela Mercury, Madonna, Carmem Miranda (citando as mais representativas), de
juntar a dança ao canto, pousando, por vezes, na dramaturgia como pede o seu
destino de cantriz.
Sua expressão artística agrega-se à
abertura do leque: novelo de feminilidade, norte de iyabás, diversidade comunicativa;
o leque é a marca registrada da menina que sabe cantar, dançar, representar,
falar, convencer, atrair e nos representar.
Nada nela é inovador se um olhar
diacrônico escrever sua história: os gestos lembram às vezes Daniela, outras
Márcia Freire, algumas vezes Madonna; reverencia, no canto, as maiores cantoras
brasileiras como Carmem Miranda, Emilinha Borba, Elis Regina, Clara Nunes,
Alcione, Gal Costa e, claro, Maria Bethânia.
Algumas estridências são cometidas,
quando à sua maneira, ela se esquece do ser cantora e vira animadora de trio,
outra grande possibilidade sua no cenário cultural baiano.
Mas ela pode mais. Pode durar como
artista se amansar a voz, ajustando-a à beleza que lhe é, à doçura que convida,
e ao timbre claro alcançado por vozes límpidas como a de Ivete Sangalo, mesmo
que por vezes desperdiçado.
Aila tem uma grande torcida e um
vigor enorme para Pop Star: doa em
quem doer, é mais talentosa que Cláudia Leitte e pode servir como
produto-novidade para as políticas de reabastecimento da nossa indústria
cultural. Para mim, este fato seria um crime contra as possibilidades artísticas
para quem nasceu e foi educada e incentivada, familiarmente, para ser artista.
Uma delícia ver Aila no palco: ora
brincando ora sendo aquilo que já é. Suas escolhas políticas a fizeram, como La
Mercury, a levantar bandeiras a favor das diversidades, ao direito do amor
livre e independente de marcas sexuais; uma postura avançada para quem, de
verdade, tem a identidade sexual circunscrita no que chamaríamos de
heterossexualidade. A menina enlouquece os gays pelo país afora.
Aila Menezes é baixinha, cheinha do
tipo Madonna anos 80; desliza como tem que ser; promove estridências
desnecessárias ( algumas de suas mestras não saem do trio); está assustada com
o cenário de fama que se aproxima; posta nos redemoinhos das opiniões – ela só
será se se guiar pela força do talento para o palco e, assim, ouvir a própria
intuição e a voz das pessoas que a amam antes dela ser Aila Menezes aqui ou
acolá.
Marlon Marcos é antropólogo e
jornalista ( DRT- BA 2235)
Nenhum comentário:
Postar um comentário