sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Caetano Veloso, 73 anos









O artista.

Lembro-me do meu esforço, com 10 anos, para entender o que me dizia aquela letra de Um índio, na voz daquele homem que todos achavam efeminado e eu achava o mais homem de todos. Lembro-me de suas contas de Odé e de Oxum, do azul claro que vestia ele e aquele chapéu na capa do LP Cores e Nomes. Lembro que ele me permitia ser. Sua poesia me fazia sonhar e desejar uma vida melhor, com a qual eu pudesse me expressar. Amava ter nascido na Bahia e, melhor ainda, ter nascido em Salvador. Queria saber escrever (e eu não sabia) para ser poeta tal qual aquele homem tão estranho e fora dos padrões, mas dono da rara beleza que só os artistas mais raros conseguiam ter. Sonhava com ele. Aceitava o candomblé na minha vida, com mais tranquilidade, por causa dele. Quem era Muhammad Ali? O que dizia a palavra impávido, a qual nunca mais esqueci? Cinema transcendental trilhos urbanos, Gal cantando Balancê. Quando esta preta começa a tratar do cabelo. Um filhote de leão raio da manhã. Amar dar tudo não ter medo. Bobagens, meu filho, criancices. Místico pôr do sol no mar da Bahia. Vivia aquelas canções e para ser menos pobre e me exibir inteligente, além de Gal. Baby, Clara Nunes,Novos Baianos, Fábio Júnior, Gonzaguinha, Kátia ( a cantora cega), Sidney Magal, entre outros, mais que tudo, desde os 7 ou 8 anos, eu gostava de Caetano Veloso.

O homem.

"Abrirmos a cabeça para que afinal floresça o mais que humano em nós". Aquele corpo famoso do gênio se divertindo no Porto da Barra. Os shows possíveis em santo Amaro. O susto da boca pintada de batom. A força na figura frágil. A fala infernal. As letras que mais amo. O caminhar nas ruas da Bahia. A coragem e o discurso. Os ensinamentos de alguém ao meio popular, que mais do que acadêmicos e intelectuais oficias, empurrou o Brasil para o melhor, o menos careta, o menos desumano e atrasado. Alguém que se sonhou grande, se fez grande, sem perder a dimensão do que se deveria fazer, através da canção popular, para que não fôssemos mergulhados na truculência de um tempo perverso, e que ele, muito ele, mais que tantos outros, tornou muito criativo.

Trem da Cores

A canção dele que, na voz dele, eu mais amo.
E esta é a mensagem da minha existência:
"E aquela num tom de Azul, quase inexistente Azul que não há, Azul que é pura memória de algum lugar."


73 anos,

Uma alegria imensa tê-lo vivo, atuante, criativo...Envelhecendo nessa verve juvenil que nunca lhe abandonará...Só lhe peço: nunca perca a sabedoria edificante que os anos nos trazem. Se lhe cobram muito é porque suas marcas são indeléveis nesta civilização negro-mestiça chamada Brasil.
Vocé é poesia - e eu, com muito esforço, tento aprender contigo.

Parabéns, mestre maior.

Com amor,
Marlon Marcos

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