quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Entradas do amor em mim



P/ Maria Bethânia


É o defeito da expectativa me movendo a elaborações, que faço pelo simples fato de ter minha emoção atendida. E há a quebra. Busca labiríntica na seara do conhecido em que me estranho frente ao espelho da coragem. Trânsito no palco: a vida da voz doendo em flutuações artísticas. O velho é o mais novo ali. Pausa destemida.

Solidão como casa em meus olhos ardendo de saudade. O instante que não houve e ouço descrito no entoar de algumas canções. Minha alma embriagada nos versos de Escândalo e eu fujo vendo os pés descalços da diva. Fogueira emite minha mensagem de desespero: interajo com o amor que não funcionou.

Tenho as récitas da voz inscritas na pele do meu sonho. Surto em análises comedidas: ouço e vejo, vejo e ouço, sou todo espiral nas asas de um sentimento inconcluso que exerço da plateia... Meu tempo ali também é quando.

Quando ela canta em movimento desfiando as várias formas da beleza. Repito-me no que ela me reitera e sirvo de envelope. Meu corpo que começa pelos ouvidos é salvaguarda daquele mistério. Mas sou olhos também, e mãos e melhoramentos.

Lágrimas em estado de poesia...

A diva de fogo torna-se anjo. Outra porta se abre no centro do meu pensamento, frente a imagens irrealizadas, o desejo se instala e acordo do êxtase.

A mulher comanda minha memória. E de fogo para anjo ela agora é água. Ainda diva aludida no silêncio espectador dos tornados ouvintes. Grito por dentro tentando tocá-la mergulhando no mar revolto da sua voz. Hora da gravidade. O perigo que instiga. A palavra mais bem dita em um falante em cima do palco. Ouve-se sua respiração; seu diafragma venta para configurar sua condição. Através do vento abrindo águas: surge a sereia.

E ela dança. Meio samba ballet invenção. Dança como a calma que não tenho e me acalma o desatino. Quebro o silêncio berrando bravo! E choro em cerração buscando de novo o silêncio -  aquele que o  estar ente sereia imprime.

Outra porta, alguma dor, sereno, lua, búfalo, borboleta, estrela, ladeira, esconderijos... A diva como terra na rota da minha recepção.

Ninguém pisa, só escuta advindas do chão as cartas sonoras. Milhares de receptáculos marcados entre paixão e medo, e eu, novamente, envelope...

Tragado pela comoção, rezo pelo direito à felicidade, bato palmas, enxugo as lágrimas, abraço o amigo e saio, ora letárgico ora ligeiro, agradecido, em busca de outro tipo de embriaguez.  Ao som dos CD’s e DVD.

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