P/ Maria Bethânia
É o defeito da expectativa me
movendo a elaborações, que faço pelo simples fato de ter minha emoção atendida.
E há a quebra. Busca labiríntica na seara do conhecido em que me estranho
frente ao espelho da coragem. Trânsito no palco: a vida da voz doendo em
flutuações artísticas. O velho é o mais novo ali. Pausa destemida.
Solidão como casa em meus olhos
ardendo de saudade. O instante que não houve e ouço descrito no entoar de
algumas canções. Minha alma embriagada nos versos de Escândalo e eu fujo vendo
os pés descalços da diva. Fogueira emite minha mensagem de desespero: interajo
com o amor que não funcionou.
Tenho as récitas da voz inscritas
na pele do meu sonho. Surto em análises comedidas: ouço e vejo, vejo e ouço,
sou todo espiral nas asas de um sentimento inconcluso que exerço da plateia...
Meu tempo ali também é quando.
Quando ela canta em movimento
desfiando as várias formas da beleza. Repito-me no que ela me reitera e sirvo
de envelope. Meu corpo que começa pelos ouvidos é salvaguarda daquele mistério.
Mas sou olhos também, e mãos e melhoramentos.
Lágrimas em estado de poesia...
A diva de fogo torna-se anjo. Outra
porta se abre no centro do meu pensamento, frente a imagens irrealizadas, o
desejo se instala e acordo do êxtase.
A mulher comanda minha memória. E de
fogo para anjo ela agora é água. Ainda diva aludida no silêncio espectador dos
tornados ouvintes. Grito por dentro tentando tocá-la mergulhando no mar revolto
da sua voz. Hora da gravidade. O perigo que instiga. A palavra mais bem dita em
um falante em cima do palco. Ouve-se sua respiração; seu diafragma venta para
configurar sua condição. Através do vento abrindo águas: surge a sereia.
E ela dança. Meio samba ballet
invenção. Dança como a calma que não tenho e me acalma o desatino. Quebro o
silêncio berrando bravo! E choro em cerração buscando de novo o silêncio - aquele que o estar ente sereia imprime.
Outra porta, alguma dor, sereno,
lua, búfalo, borboleta, estrela, ladeira, esconderijos... A diva como terra na
rota da minha recepção.
Ninguém pisa, só escuta advindas do
chão as cartas sonoras. Milhares de receptáculos marcados entre paixão e medo,
e eu, novamente, envelope...
Tragado pela comoção, rezo pelo
direito à felicidade, bato palmas, enxugo as lágrimas, abraço o amigo e saio,
ora letárgico ora ligeiro, agradecido, em busca de outro tipo de embriaguez. Ao som dos CD’s e DVD.
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