terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Mãe Tatá: dádiva de Oxum


Em pleno movimento da festa do barco
– a que encerra o calendário litúrgico
anual do Ilê Axé Iyá Nassô Oká e é uma
homenagem a Oxume a Iemanjá – aconteceu
o lançamento do livroMãe Tatá – uma dádiva
de Oxum, pela importante editora baiana
Ogum’s Toques Negros, organizado pela ekedy
e professora doutora Ana Rita Santiago,
que intuiu homenagear com a obra Altamira
Cecília dos Santos – a mãe Tatá de Oxum,
sacerdotisa maior que está no comando daquele
terreiro desde os anos 80.

A festa é um paiol de beleza: combina
tecidos finos dourados com cortes de seda
azul clarinho, como o mimo que Oxum e
Iemanjá fazem em seus filhos. O feminino
que se alastra negro saudando nossas origens
africanas. O livro pode ser definido como
síntese da delicadeza dirigida à delicada figura
de uma das grandes lideranças do candomblé
baiano nos últimos anos. É uma reunião
de relatos, curtos e tocantes, com impressões
de membros e amigos daquela comunidade
religiosa e que viveram experiências
com mãe Tatá, tida e referida no livro,
pelo babá Air do Pilão de Prata, como a Irmã
Dulce do Axé.

Numa noite de domingo, 30 de novembro,
os atabaques em batás e cânticos ijexás, uma
significativa obra é lançada para a sacerdotisa,
no barracão de um dos mais tradicionais terreiros
jeje-nagôs do mundo (já que o candomblé
tornou-se uma religiãomundializada),
e a alegria dos que participaram da homenagem
escrevendo o livro foi contagiante: “Esqueci
a palavra santa no meu texto, sou a
autora da página 103, conheci mãe Tatá através
do ogã Tonho, fomos colegas de escola; vinha
muito aqui jogar cartas com ela; nunca fiz o
santo, hoje sou católica bem praticante, mas
admiro e gosto muito de mãe Tatá”, falas de
Aurelice Pereira de Almeida, em dupla felicidade:
estreando como autora e homenageando
alguém que marcou muito a sua vida.

Que realização digna é este livro: poderíamos
assinalar os novos tempos do meu povo
de santo, escrevendo para e sobre si mesmo, se
somarmos a isso respeito às mais diferenciadas
trajetórias dentro do candomblé, mirando-
se na singeleza poderosa de mãe Tatá.

(Publicado no Jornal A Tarde, Caderno Opinião, p. 3, em 06/12/2014)

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