terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mãe Raidalva: sessenta anos a serviço dos Orixás

Mãe Raidalva e ao lado, Mãe Hilda de Oxum

Marlon Marcos ( jornalista e antropólogo)

Numa sociedade racista, intolerante, pouco dialógica e desinformada como a nossa, é imprescindível se registrarem datas comemorativas que perfilam a trajetória de luta e fé das damas do candomblé baiano, em especial de sacerdotisas como mãe Raidalva de Omolu, que, em 30 de setembro de 1950, foi iniciada nos mistérios do orixá, com apenas 7 anos de idade, dedicandose ininterruptamente a preservar fundamentos dessa religião ainda tão incompreendida (e desconhecida em suas minúcias) pela população majoritária deste País.

Pois é, esta mulher de 67 anos, nascida no Rio, foi iniciada pelo babalorixá Raimundo da Cruz, em seu terreiro no bairro de Pernambués, em Salvador, e desde sempre, nas imediações da já tradicional Avenida Hilda, adquiriu conhecimento litúrgico, fortaleceu alianças, cumpriu processualmente suas obrigações, para se tornar uma mulher sábia, que, sob a égide de Oxalá, Omolu e Oyá-Iansã, pudesse cumprir com dignidade e maestria o comando do importante terreiro Ilê Axé Oyá Tolá, localizado no município de Candeias, Bahia.

Esta senhora faz um belíssimo trabalho social para boa parte dos moradores de Candeias através do ambulatório médico e da creche – atende quase 100 crianças – que são mantidos pela Associação dos Amigos do Ilê Axé Oyá Tolá. Preocupa-se em servir aos orixás, levando ao seu povo saúde e educação, bemdentro dos princípios verdadeiros que devem comandar qualquer sacerdotisa, ainda mais sendo filha de Omolu, o senhor da terra, promotor da saúde e da doença, misteriosa entidade dona da beleza resplandecente dos 13 raios do sol e do silêncio funesto da morte.

Mãe Raidalva é uma militante religiosa do candomblé que prega o diálogo entre as culturas, defende mais o respeito do que a tolerância entre as religiões. Cuida dos seus filhos espirituais com absoluta dedicação, se entrega a resolver problemas sociais de sua comunidade com atitudes políticas e empreendedoras, marcando-se neste tempo como uma das nossas grandes iyalorixás.

Portanto, são 60 anos de axé escrevendo uma história que enche de orgulho o povo-de-santo da Bahia e do Brasil.

(Publicado em 05 de outubro de 2010, no Opinião, do Jornal A Tarde)Justificar

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Onde descansar

Pousar o olhar em dois sentidos num único lugar.
Vagar ali ora sendo música ora poesia...
Gastá-los pela audição ocular,
Ser inteiro festejo e coração,
Pensar descansando.

04 de outubro: quando um Ori faz aniversário

Iyá Ogunté
Águas do meu Pai

Ê nijé nilé lodô
Yemanjá ô
Acota pê lê dê
Iyá orô miô (bis)

Toda fé para iluminar esta festa: símbolo de um renascer! Todo canto, seresta; noite a dentro, dia chegando, o peito louvando... A abundância das águas que me guiam e me limpam e me centram na paz que brota de mim mesmo. Odô Iyá, minha rainha! Epa Babá, senhor de mim. Obrigado e Axé!

domingo, 3 de outubro de 2010

João Gilberto para purificar das eleições

Tomado pela voz do mestre dos mestres. Indo nos acordes daquele violão a um lugar do qual não quero voltar. Tomado pela voz de João para me purificar de eleições, verborragias e barulhos correlatos. João para me salvar deste dia. E hoje é domingo! É 03 de outubro de 2010.

Na foto sobre a mesa


Os dias são assim: muito quentes para negar o conforto da alma e nos fazer desnudar o próprio corpo para si mesmo. São quentes sem degelar o sentido doído que impele às buscas e nos retira da fantasia de estar dentro do alcance. Quentes para espelhar muitas águas e nos colocar bem distantes delas. Quentes para criar vácuos, para servir aos trópicos, embaralhar fome e sede, e marcar a vida de faltas sem defini-las. Quentes para evitar música poema literatura: o que se vê é uma foto sobre a mesa. Numa casa que um eu sozinho, paulatinamente, desabita. Quentes para repetir intensidade e desgaste e morosidade numa manhã morna de outubro naquela cidade que combate todas as perspectivas de melhoras. É aqui mesmo.
***
Toda escrita que habita em mim reverencia Clarice Lispector

sábado, 2 de outubro de 2010

azul celeste


Fora dos planejamentos...
Sopro de vento, anúncio e saídas.
A camisa curtida depois de lavada,
Estendida no quarador,
Esboça identidades...
Camisa surrada sem desbotar,
Exprime realidade e ensina:
O azul turquesa é o mesmo
Azul piscina.

Ferreira Gullar (II)


Derrame antropológico:
" O outro é que dá sentido à nossa existência"
P.S.: o pior é que a maioria vive para negar esta nossa demanda maior: o outro.

Ferreira Gullar: Em alguma parte alguma


É uma felicidade imensa um livro novo de um poeta. Ainda mais quando o poeta é nada mais nada menos que Ferreira Gullar. A poesia de Gullar está entre a leveza de Vinicius de Moraes e o rigor estilístico de João Cabral de Mello Neto; e são textos proponentes que nos fazem ver em escritos e partir do "eu" e convida a participar ativamente da vida em coletivo. Político, sim, mas mais que tudo, hoje, o mais importante literato dos poemas deste nosso País. Neste seu novo Em alguma parte alguma ele se dá sentido numa semi perplexidade diante da finitude, e poetiza para marcar nossa imaginação que lê entre medo e desejo, sente sede, combina e não esquece. Poemas simples dos quais ninguém se ausenta.
Ilustram-se assim:
por aqui
não custará nada imaginar
que estou sorrindo ainda
naquela nesga
azul celeste
pouco antes de dissipar-me
para sempre
***
O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a marga marca
na paisagem escura.
Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real,
Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.
Então por que me faz
o coração bater tão forte?
P.S.: um sábado de poesia pra mim: este livro dança sobre meu corpo e diverte minha mente.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Da realização

Meus sonhos são o melhor de mim.
E colho deles a verde fé que me faz
Realizar.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mãe Raidalva de Omolu: 60 anos de dedicação aos Orixás

Mãe Raidalva de Omolu

Sementes da sabedoria:o Ilê Axé Oyá Tolá, o belo terreiro situado em Candeias- Bahia, festeja hoje os 60 anos de iniciação no candomblé, da ilustre Mãe Raidalva. Em 1950, essa senhora, aos 7 anos de idade, entregou-se a Omolu e a Iansã e nasceu para os mistérios da nossa fé. Uma empreendedora, que faz da religião um instrumento de devoção aos orixás, mas também de ajuda social para a sua comunidade. A bênção, mãe. E que nosso"povo" a conserve por muito tempo entre nós. Olorum Modupé!