segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Casa Branca: festa e movimento


O Ilê Axé Iyá Nassô Oká, a conhecida Casa Branca, está às voltas com a preparação das louvações anuais ao orixá maior na liturgia do candomblé brasileiro: Oxalá. Cada detalhe para esta poderosa energia da cor branca (funfun em iorubá), pai de todos os orixás, senhor da fertilidade, benfeitor da vida humana, é planejado com esmero pela aquela comunidade, aos comandos da iyá Tatá de Oxum. O calendário festivo começa dia 31/08 em homenagem a Oduduwa; dia 07/09 é Oxalufã o festejado; e o dia 14/09, último domingo, é dedicado ao senhor da paz e da guerra, Oxaguian. Estas cerimônias são abertas ao público e começam sempre às 20h..
E é através da intervenção espiritual de Oxaguian, que o Terreiro da Casa Branca luta contra os desmandos do governo do atual prefeito de Salvador, João Henrique, que demonstra total inabilidade para lidar com a diversidade religiosa em nossa cidade, em especial com o universo das religiões afro-brasileiras, que em pleno século 21, ainda se desgastam para ser consideradas religião como qualquer outra existente no Brasil e no mundo.
A Casa Branca é tida por estudos historiográficos e antropológicos, como o templo mais antigo em nosso País, no modelo classificatório erguido pelas pesquisas clássicas de Vivaldo da Costa Lima, também referendadas pelo antropólogo Luis Nicolau Parés. Muitos intelectuais, artistas, e até políticos, estão solidários a esta necessária batalha que não é só do referido terreiro, que foi, em tese, obrigado a pagar mais de 800 mil reais de IPTU, sendo tombado pelo IPHAN, desde os idos anos 80, como Patrimônio nacional, e é instituição religiosa, imune a pagamento de taxas desta natureza, como nos assegura a Constituição desta nação.
Outros terreiros também estão em demanda com a prefeitura, que, meses atrás, mandou derrubar parte do Oyá Onipó Neto, localizado no bairro da Boca do Rio, e depois, alegando equívoco, tratou de “reconstruí-lo”. O prestigioso Terreiro de Oxumaré, comandado por babá PC, filho deste vodum, também foi requisitado a pagar impostos e engrossa com peso o filão de repúdio a um mandato ingênuo, que não consegue entender que o candomblé sobreviveu à escravidão, que mães e pais-de-santo são intelectuais de uma saber que não se aprende na escola, que além de combater racismos generalizados, fez parte dos movimentos negros brasileiros, reconhecer esta religião como um instrumento de afirmação identitária e de valorização da auto-estima dos afro-descendentes deste País.
Em nome da Casa Branca, à frente deste movimento, além do antropólogo e ogã Ordep Serra, está a veneranda Gersonice Brandão, 65 anos, iniciada pela saudosa Nitinha de Oxum, e mais conhecida como ekedy Sinha. Em recente entrevista a Cláudio Leal, do Terra Magazine, ela declarou: “Eles precisam saber que nós da Casa Branca, como toda entidade religiosa, seja de ketu, umbanda, ijexá, somos fortes como uma rocha”. Prefeito, tenha certeza disso!
(Publicado em Opinião do A Tarde em 11/08/2008)

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