quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

MB




eu  deveria evitar palavrórios para não macular a finura deste dia.

deveria me furtar das ocupações e sendo só ouvidos e memória:

escutar seu canto olhar suas fotos pensar o impossível sonhar...

assim é esta trajetória que anima e apaixona: “faíscas no palco”.

um rosto passado a limpo e mãos que falam olhos que cortam

invadem asseguram afastam: muitos símbolos...

mulher franzina pequena semi negra grave altiva baiana

dona da beleza que exprime raridades

um ser de verdade que a arte inventou...

uma canção para multidões mas o coração ensina:

escute-a sozinho ou acompanhado de mais um.

sua voz aciona a emoção e faz amar.

aquela força que é a guardada delicadeza

para a certeza de quem soube onde chegar.

um vento que não cessa e sobre reservas

domina o cancioneiro de um país

espalha poesia para um país

transborda-se entre humana e divina

se nos colocando no centro da fruição.

diva dos pés descalços  caipira;

doutora dos alumbramentos;

instrumento humano de devoção

a favor da educação para efetivar belezas...

mulher manancial que espelha

que reflete sonhos e

rasga a realidade.

tantos anos do coração explodindo

e a gente sem saber o que dizer

como agradecer ou acompanhá-la.

luminosidades discretas ou ardentes

ela está como corpo perene

cantando na minha imaginação.

acarinho aquele sorriso e silencio

já são palavras demais...

quero somente o som da voz

da estupenda cantora que alvoreceu

na caminhada dos anos: quase 50!

e pirraçando os que ainda não acreditam

e de inveja fingem cansaço

ela,

diluindo cinco décadas:

só está começando...

Marlon Marcos,
Montevidéu, 13 de fevereiro de 2014




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