eu deveria evitar
palavrórios para não macular a finura deste dia.
deveria me furtar das ocupações e sendo só ouvidos e memória:
escutar seu canto olhar suas fotos pensar o impossível sonhar...
assim é esta trajetória que anima e apaixona: “faíscas no palco”.
um rosto passado a limpo e mãos que falam olhos que cortam
invadem asseguram afastam: muitos símbolos...
mulher franzina pequena semi negra grave altiva baiana
dona da beleza que exprime raridades
um ser de verdade que a arte inventou...
uma canção para multidões mas o coração ensina:
escute-a sozinho ou acompanhado de mais um.
sua voz aciona a emoção e faz amar.
aquela força que é a guardada delicadeza
para a certeza de quem soube onde chegar.
um vento que não cessa e sobre reservas
domina o cancioneiro de um país
espalha poesia para um país
transborda-se entre humana e divina
se nos colocando no centro da fruição.
diva dos pés descalços caipira;
doutora dos alumbramentos;
instrumento humano de devoção
a favor da educação para efetivar belezas...
mulher manancial que espelha
que reflete sonhos e
rasga a realidade.
tantos anos do coração explodindo
e a gente sem saber o que dizer
como agradecer ou acompanhá-la.
luminosidades discretas ou ardentes
ela está como corpo perene
cantando na minha imaginação.
acarinho aquele sorriso e silencio
já são palavras demais...
quero somente o som da voz
da estupenda cantora que alvoreceu
na caminhada dos anos: quase 50!
e pirraçando os que ainda não acreditam
e de inveja fingem cansaço
ela,
diluindo cinco décadas:
só está começando...
Marlon Marcos,
Montevidéu, 13 de fevereiro
de 2014
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