domingo, 18 de agosto de 2013

A mulher e o mar



Até mesmo, a mais difícil das aprendizagens, pode compor-se de poesia, sinta, tão somente, sinta:

"A mulher não está sabendo:mas está cumprindo uma coragem. Com a praia vazia nessa hora, ela não tem o exemplo de outros humanos que transformam a entrada no mar em simples jogo leviano de viver. Lóri está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque salgado e grande, e isso é uma realização da Natureza. A coragem de Lóri é a de, não se conhecendo, no entanto prosseguir, a agir sem se conhecer exige coragem.

Vai entrando. A água salgadíssima é de um frio que lhe arrepia e agride em ritual as pernas.

Mas uma alegria fatal - a alegria é uma fatalidade- já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seu mais adormecido sono secular.

E agora está alerta, mesmo sem pensar, como um pescador está alerta sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda - e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no AMOR EM QUE A OPOSIÇÃO PODE SER UM PEDIDO SECRETO".

Palavras- chave: amor - mar - aprendizagem - pescador - socorro

(Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres)

PARA SENTIR ATÉ À INTELECÇÃO 

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