Guardo-me na perenidade deste aprendizado. Não foi escolar.
Aparenta mitificação banal, ou mero personalismo. Mas não. Figura na
intensidade de me perceber pertecendo e mais que intensidade, em mim, é a minha
necessidade de pertencer.
E é fácil nas paisagens que ele emoldorou em canções, versos, em
texto múltiplo, em silêncio... Ali, eu pertenço. E aprendo a querer a preservar
a minha vocação popular coletiva, espraiada pelas duras, mas coloridas, ruas da
minha vida de soteropolitano. À beira da minha Baía. A Bahia que não sai de
mim.
Meu coração cantarola o que a voz não pode não sabe. Apego-me à
alegria de poder agradecer. De querer que comemorem, numa forma de síntese, a
inventidade negro-mestiça baiana que a obra sem par deste homem revelou ao
mundo. Meu peito pronuncia: mestre. Minha pieguice grita: patriarca. A grandeza
sussurra: Caymmi.
Eterno aprendizado que me dura a vida. Banho-me nesses mares,
refresco-me de orgulho e fé frente aos versos erguidos para minha mãe Iemanjá.
E sei da Salvador que nunca existiu e é toda linda naquelas canções. E sei da
Salvador que existiu e é toda linda naquelas canções. E sei da Salvador que
poderíamos...
30 de abril de 2014 e ele fará 100 anos. Por mais que a burrice
não queira, que a falta de memória viole, que a truculência de qualquer
política evite, a sua presença é corpo marítimo da nossa história. Marca
indelével para nos afirmar e para nos negar nesse pedaço Salvador -
Recôncavo...
Não posso sair do estado de poesia: seguro no violão que não
toco, disperso em sonoridades que não emito; mas, imaginariamente reverente e
agradecido... Esta trajetória individual que se tornou coletiva para os humanos
que entendem a imprecisão de se nascer baiano à luz negro-azulada luso-africana
e indígena, inventada nas ruas num tempo, em que um valentão esculpia a beleza
amalgâmica e rara da Cidade da Bahia.
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