Ela se veste na elegância da sua própria caminhada. Desenha
vigor e esperança quando canta e imprime possibilidades estéticas, às vezes,
combatendo a ferocidade das críticas que se opõem às escolhas do que ela elege
como expressão. É um mito em termos de coerência artística, uma voz para a pura
fruição, mas que se qualifica a indicar caminhos culturais, educativos,
humanos, que nos respeitam em nossas identificações como brasileiros.
Inventiva: uma senhora menina que faz hoje, dia 18 de junho, 68
anos, numa carreira de quase 50, marcando-se em reiterações e saudando o
popular, o sublime escondido, a força negra e indígena que nos perfila como
povo em diálogo com outros povos brancos ou quase brancos que chegaram a isso
que temos e amamos como Brasil.
Nisso tudo: brota dela poesia, a busca por novas sonoridades, a
alma cabocla brasileira, o sertão da lua ao som das violas, a palavra do
português mais claro, a vontade de amar, a sede do amor, a paixão pelo palco, a
missão de querer estar para simplesmente cantar o que advém do mistério das
sereias, no nosso caso, do mistério das Iaras.
Tenho um sonho doce e edificante por ouvir Maria Bethânia nas
duas últimas décadas - me pego a ler Sophia de Mello Breyner, Fernando Pessoa,
Clarice Lispector, impulsionado pela vazão literária que nunca escapa da verve
expressiva da cantora - uma das maiores vozes do mundo contemporâneo - sem
vergonha de ser brasileira nascida no interior da Bahia entre o agreste e às
águas do Recôncavo.
Uma presença que nos dignifica e humaniza pelos conceitos que
opera em nome da sua verdade artística. Uma senhora sem medo da sua imagem de
senhora. Simbolizando fé e otimismo em defesa da vida, da água, da folha, da
sabedoria, da educação de todos aqui, e mais, como profunda diversão, da inserção
da poesia como alimento diário dos corpos e das almas de qualquer brasileiro.
Controle de qualidade - doutora notório saber em teatro,
literatura, música popular, antropologia, história e veracidade. Grande!
Um ente que a Bahia deu ao Rio de Janeiro e que, como
brasileira, nos orgulha em qualquer lugar deste mundo.
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