sábado, 6 de novembro de 2010

Márcia Short: espectros vocais da melodia


Quando a voz irradia luz e ainda é Carnaval. A poesia em puro som. Sinais da vitalidade que é meio sorriso inteira afinação tradição negra e beleza; quando a beleza nasce da canção e é da fêmea. A leoa mãe no perigo do canto: a grande sedução que percorre as ruas da Bahia fazendo uma história que deveria ser muito muito muito mais reconhecida.
Quando a órbita exige fé e a mulher é o grande tempero da maior festa dos baianos. E mais ainda, quando a mulher feitiço, estúpida competência, canta para além da festa e se encena em sua vocação de grande cantora.
Ali uma grande esperança que não nos deixam acreditar.
Ali a menina que canta dança e se oferta no talento.
Ali a melodia em seus espectros numa força- espécie de Oyá e Oxum.

O feitiço dos encontros

Márcia Short (E) e Sandra Simões

Dessa Bahia eu não posso me apartar. Em mim, faíscas dos grandes encontros e estas mulheres em suas vozes nos fazendo ser. Meio pensamento e muita delícia. Cenas da noite em que voltamos ao que nunca deixamos e é a música que nos conduz. Alguma felicidade ali. Sinais do aprendizado: a Bahia pode ser festa; festa da qualidade sem dever criatividade a ninguém. Encontros das nossas cantoras, patrimônios do bem estar auditivo. Popular sim, e com muito orgulho. Nossas Márcia Short e Sandra Simões. Aqui, em Salvador da Bahia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

À delicadeza

Erga-se diante de mim
E me traga movimento
Esperança e sentido.

Me traga o alívio
Só visto no mistério
Das entregas.

Me chegue
Veloz como o som
E em paz.

Apronte-se
Como um desenho
Desnudo e coragem.

Venha morar
Na delicadeza
que construo a esperar

Você.

Dos retornos


"Voltar quase sempre é partir
Para um outro lugar"

Chico Buarque recebe seu 3º Prêmio Jabuti

O Buarque de Maria Bethânia
"Habitualmente avesso a comparecer a eventos públicos, Chico Buarque de Holanda surpreendeu ao participar na noite desta quinta-feira, 4, à entrega da 52.ª edição do Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira. O evento foi realizado na Sala São Paulo.
Sua obra "Leite Derramado" (Companhia das Letras) ficou em segundo lugar na categoria Romance do Jabuti - em primeiro ficou "Se Eu Fechar os Olhos Agora" (Record), de Edney Silvestre. Luis Fernando Verissimo, colaborador do jornal "O Estado de S. Paulo", terminou em terceiro, com "Os Espiões" (Objetiva).
O escritor chegou discretamente, quando a cerimônia já tinha começado, e se sentou ao lado de seu editor, Luiz Schwarcz. O cantor e compositor brasileiro já havia vencido em outras edições do Jabuti, ganhando o prêmio máximo - Livro do Ano de Ficção. A primeira em 1992, por "Estorvo", e depois em 2004, por "Budapeste". O evento contou ainda com a presença do governador Alberto Goldman e do prefeito Gilberto Kassab. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. "
(Retirado do Cultura On Line do Jornal A Tarde)

Manolo Cardona, Contracorrente

O colombiano Manolo Cardona

"O 18º Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual será aberto em São Paulo no dia 11 de novembro. O evento será inaugurado com sessão para convidados no CineSesc, com o filme "Contracorrente" uma co-produção de Peru, França e Colômbia. Super tocante, o filme de Javier Fuentes-Léon é ambientado em um povoado do litoral peruano e conta a história de amor entre o pescador Miguel e o pintor Santiago. O primeiro é casado com Mariela e conta com o respeito de todos os moradores do lugar. Já o segundo é um artista forasteiro que ninguém entende muito bem. Os dois vivem um intenso romance às escondidas. No entanto, por uma daquelas armadilhas do destino, o casal é separado e a trama ganha contornos sobrenaturais. E é Miguel quem tem que encarar sua esposa grávida, os moradores da comunidade e sua própria sexualidade. Além da história em si, as cenas do belo litoral do Peru são uma atração à parte neste longa, que foi o mais votado pelo público durante o Festival de Sundance 2010."

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sob comoção


Trazer o pensamento para dentro do silêncio e flertar com imagens. É a instalação diurna da beleza configurada na fé em seus desenhos de circularidade negra. Instantes para os que cuidam do mundo, preservando o espaço sagrado do exercício das diferenças. Ou seja, sendo e deixando ser. Estes que cuidam do mundo. Duas cidades em toda poesia - Salvador, Santo Amaro da Purificação - que discursam manhãs assim: presentes para Iemanjá. A jóia verde da alegria e cânticos do Aiocá. Lágrimas que consolam. Gente viva linda feminina passando... O direito de olhar. A mão da mãe orando para que a vida comova, mova, faça sonhar, realizar e valer a pena.

O quase perdido

Era como se tudo estivesse perdido,
o mundo fosse esse buraco no meio da sala,
e nada caminhasse;
era a cor verão de um sorriso,
e tanta gente infeliz dizendo não.
Os olhos presos à visão do
buraco no meio da sala,
fazendo da minha casa,
perigo constante e solidão.
O medo de viver e de sofrer...
Eram as batidas aquecidas do coração,
entre álcool e canções,
batidas no meu ser tambor,
mãos negras percussivas,
mais velozes que o tempo...
Havia luz intra-reflexiva
e o pensamento que matava
era o mesmo que reinventava
meus instantes deixando em mim
respingos de gozo e esperança.
Como uma criança
eu só me via naquele sorriso solar
que vivia tão longe assim;
o acesso a ele estaria no centro,
lá por dentro do buraco
ao meio da minha casa?

Tiganá Santana, o mestre ganha São Paulo


Em tempos de etnocentrismos generalizados, este show é exercício de sabedoria e prática da coexistência.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Com a cara na tela e a alma sem sentido


Às vezes, o que seria da vida humana sem estereótipos e clichês? E como é imprescindível a arte em nosso cotidiano! E como não podemos deixar que nos deixem sem nos ver no cinema... Meus olhos estão na tela e o pensamento pedinte - clama aos céus tempo para alguma realização. Estou na dança final de uma cena com o personagem se despedindo da vida com a dignidade dos boêmios, os humanos que mais amam viver. Estou nos olhos entregues de um adolescente frente à paixão. Nos do outro em seu amor condenável em silêncio. No desejo, de ser estrela, ser artista, da mulher amante frustrada. Estou, com calma, flutuando sobre a beleza anos dourados do Rio de Janeiro. Estou numa sutil norte-americanização brasileira por culpa de Hollywood e estou feliz naquilo de despejar Cole Porter na gente, Billie Holiday na trilha...
Estou em A suprema felicidade, pensando nos dissabores e neste peso que é viver; pensando no amor e na fé; pensando nas poucas horinhas que compõem a nossa vã felicidade e sentindo alegria que me chega pelo cinema. Meus olhos sendo o brilho dos olhos de Jayme Matarazzo e vendo a beleza de Mariana Lima e sentindo alegria por Elke Maravilha e desbundando-se à presença mágica do ator. Sendo a excelência do ator. Meus olhos-dizeres: quem inventou Marco Nanini? Foi o Teatro. Foi a TV. Foi, por minha vontade, mais que tudo, o cinema que se faz no Brasil. Talvez nem precise ser argentino.