terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Da poesia

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e
pousam no livro que lês.
Quando fechas o livro,
eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante
em cada par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana

Mário Quintana


"Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho."

Que me venha de Iemanjá esta vontade aquática de continuar sonhando e realizando. Vontade de voar como se estivesse nadando as águas de mim; eu dono de tudo que tenho para oferecer e renascer pleno no vazio do que ofertei a quem por mim passou e eu amei. 2009 - meu nome é .

Da delicadeza


Hoje eu precisei traduzir com exatidão a delicadeza. Como estava inspirado, arrematei:
Clarice Lispector escrevinhando o cotidiano humano frente ao visível mundo do que não é humano. E depois, para além do que com carinho toca a minha memória, delicado são os olhos castanhos em lágrimas do humano de asas que marcou indelevelmente o meu caminho. Menino Deus.
Eis a delicadeza em precisão.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Avareza


Clarices
"Ter nascido me estragou a saúde"

sábado, 20 de dezembro de 2008

Fatal

Penélope Cruz
A vida é um mistério em muitos desalinhos. Sobrepõe, ao menos em mim, muitas das racionais explicações que nos governam há séculos. É preciso que haja o choque, a transgressão, a presença do impossível acontecendo para que, de fato, a humanidade caminhe, respire, crie, acredite e realize. Se nos bastasse a razão e elucidações científicas, viver seria um fardo esculpido em tédio e previsão. O desbunde e o inesperado bom ( às vezes o mau) traz vida à nossa existência. Tipo Esotérico, a canção de Gil, é a mão e olhos e o jeito da diretora Isabel Coixet de narrar pequenas maravilhas para nossa diversão e aprendizagem.
É assim: Fatal, o filme, é uma óbvia aprendizagem, erguida da categoria de quem sabe expressar beleza. Traz o imaginado, o dito imprevisto visto com previsão, numa luminescência de dor e alegria, que dela, Coixet, já tínhamos experimentado em agonia com o belo Minha vida sem mim.

Chorei e sorri. Como Penélope é linda. Como o mistério da vida é saboroso e como o magnífico Ben kingsley é sensual e desejável navegando a terceira idade. A tristeza é mágica e criadora e nós somos nisso tudo: uma grande bobagem.


Para instantes de conclusão

O sol sobre o mar e eu em alguns instantes da necessária e absoluta conclusão.
Um dia que me toma para que eu possa acarinhar. Mais um dia de entrega minha.
Nos arredores do meu pensamento minha ânsia de mudança e a esfera do meu caminho.
Faço frases que eu possa respirar antes e depois decidir. Há esperança em mim.
O movimento de ontem ressoa na manhã de agora e eu sigo assim:
Ventando forte dentro do mar de mim mesmo e conseguindo, insistindo em viver sereno.
Versos fracos para expressar o tamanho do que tenho pra dar.
Tudo em mim sou eu mesmo - pequeno - mas, imprescindível.
Agora, não.
Depois, sim.
Sim.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Contra o tempo

Rita Ribeiro
Pra' ocê
Corro contra o tempo
Prá te ver
Eu vivo louco
Por querer você
Oh! Oh! Oh! Oh!
Morro de saudade
A culpa é sua...
Bares, ruas, estradas
Desertos, luas
Que atravesso
Em noites nuas
Oh! Oh! Oh! Oh!
Só me levam
Pra onde está você...
O vento que sopra
Meu rosto cega
Só o seu calor me leva
Oh! Oh! Oh! Oh!
Numa estrela
Prá lembrança sua...
O que sou?
Onde vou?
Tudo em vão!
Tempo de silêncio
E solidão...(2x)
O mundo gira sempre
Em seu sentido
Tem a cor
Do seu vestido azul
Oh! Oh! Oh! Oh!
Todo atalho finda
Em seu sorriso nu...
Na madrugada
Uma balada soul
Um som assim
Meio que rock in roll
Oh! Oh! Oh! Oh!
]Só me serve
Pra lembrar você...
Qualquer canção
Que eu faça
Tem sua cara
Rima rica, jóia rara
Oh! Oh! Oh! Oh!
Tempestade louca
No Saara....
O que sou?
Onde vou?
Tudo em vão!
Tempo de silêncio
E solidão...(2x)
Vander Lee

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ethan Hawke (III)

Psiu!!!!!!!(Silence, please!)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Maria e Vieira : encontro na palavra

Maria Bethânia

Foi na noite do dia 10 de dezembro de 2008, na nave central, no altar-mor, da quatrocentona Igreja da Misericórdia, na Cidade da Bahia, em homenagem ao ícone da língua portuguesa, o padre Antonio Vieira, festejando os seus lendários quatrocentos anos, que Maria fez mais um projeto especial: um show longo, mesclando o universo sagrado do candomblé com o do católico, de modo impecável, e como sempre, também desfiou canções sagradas do cancioneiro brasileiro e recitou textos como só ela sabe fazer aqui neste nosso Brasil.

Mais uma réstia de luz sobre as sombras dos anos atuais. Mais um exemplo da navegação de beleza que esta senhora imputa à sua carreira. Mais uma vez, pela correnteza de força e frescor daquela voz, alguns privilegiados assitiram ao Brasil que dá certo. Ela, tão respeitosa intérprete dos mistérios da Fé, aos pés de Nossa Senhora, rezando canções, perfilou a grandeza da cultura que nos permite sonhar com um país melhor.

O ingresso foi caríssimo. Afugentou muita gente, inclusive a mim, mas a homenagem honrou a nossa tradição popular: Dona Bethânia no centro católico do Brasil gritando: " Eu sou o céu para suas tempestades/Deusa pagã dos relâmpagos/ Das chuvas de todo ano/ Dentro de mim". Revigorando a santificação de entes caros para todos nós: Santa Bárbara e São Jorge!

Luminescência pura e perfumada de azul. O canto sublime do artista longevo mais criativo em tempos atuais. Sibilares da vontade dos deuses de terem Maria como sua porta-voz mais legítima e preparada. As fotos são da escritora Maria Sampaio. E, segundo o doce Rodrigo Velloso, as imagens foram feitas por Bia Lessa, o que pode nos assegurar mais um registro artístico, em audio- visual, das performances memoráveis da nossa Maricotinha.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pétala por Pétala

Chico César
Pra o'cê
a sua falta me fez ver
o que de mau a vida pode ter
e a sua volta me dá mais
de todo o mel que eu ousaria querer
sua presença me faz rir
dos dias feitos pra chover
nao há revolta pra sentir
nem há milagre pra não crer
vinda que finda
a tinta de pintar tristeza
deixa os mistérios plenos de sentido
e a flor da vida toda
pétala por pétala
que um tolo pode colher
sem saber que é amor
vem e aumenta em mimo único que sou
me subtrai do que em mim passou
é amor, vem.
(chico césar / vanessa bumagny)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Água Viva


A pintora-missivista, Água Viva

“Olha para mim e me ama.
Não: tu olhas para ti e te amas.
É o que está certo.”
( Clarice Lispector, Água Viva).

O livro Água Viva foi publicado em 1973. Um texto que narra a história de uma pintora, que mergulhada em lembranças da sua relação amorosa desfeita, resolve inusitadamente escrever para o ex-amante e constrói uma carta-despedida que se tornou a mais bonita missiva da literatura brasileira até então.
O nome da personagem não aparece na história, que narrada em primeira pessoa vai desenhar dentro de sofisticada linguagem, um quadro de dilacerante despedida e revelar os caminhos criativos de uma escrita erguida da esmagadora solidão. Um texto muito distante de narrar linearmente uma história, talvez seja mesmo uma narrativa sem história que envolve o leitor em uma teia de sentimentos e sensações provocadas pelas imagens pintadas por palavras, imagens que iluminam a percepção e que conduzem o leitor a re-criar através da imaginação novas possibilidades de histórias dentro do livro agora analisado.
É uma discursiva assumidamente feminina, na qual os hábitos e costumes da narradora reforçam a idéia da sua condição sexual e reitera os construtos simbólicos que representam a mulher no âmbito da cultura ocidental. Um livro que paradigmaticamente se insurge contra os escritos clariceanos anteriores, e se apresenta como um grande poema, ou melhor, como exemplo de uma belíssima prosa-poética em digressões sobre as sensações e as percepções do indivíduo feminino:
“Ouve-me então com teu corpo inteiro.
Quando vieres a me ler perguntarás por
que não me restrinjo à pintura e às minhas
exposições, já que escrevo tosco e sem
ordem. É que agora sinto necessidade de
palavras – e é novo para mim o que
escrevo porque minha verdadeira palavra
foi até agora intocada. A palavra é
a minha quarta dimensão”(p.10).

É mais uma história de amor clariceana, expressando pelas entrelinhas, ou mesmo, pela liberdade interpretativa do leitor, um universo de sentimentos antagônicos que agonizam e revigoram a pintora-missivista, dedicada a escrever como se estivesse a falar, ou até mesmo a pintar, contra o silêncio exercido por ela, talvez, durante a existência de sua relação amorosa. Escrever/falar para negar os erros cometidos no passado e se sentir mais inteira diante de si, recuperando assim a integridade da sua identidade perante os escombros gerados sócio-existencialmente por uma separação.
Escrever para passar o tempo e vencer a saudade, que persiste diante da solidão. E deste ato de escritura experenciar o “enfeitiçamento” que acomete a narradora de uma “verborréia” imagética e a faz construir outra realidade, que se traduz assim:
“Não quero ter a terrível limitação de quem
vive apenas do que é passível de se fazer
sentido .Eu não: quero uma verdade
inventada.”(p.20).

Entre as três personagens discutidas até aqui, há a necessidade de consolidação identitária. As três são mulheres da classe média, instruídas, urbanas, que vivenciam suas experiências femininas em um nível razoável de consciência, e se questionam sobre a realidade, sobre a existência e as motivações pessoais (e coletivas) que podem conferir sentido à vida humana.
Permeando as histórias de GH, de Lóri e da Pintora-missivista, estão questionamentos recorrentes ao universo feminino: a descoberta de si, a entrega amorosa, a maternidade, o encontro com o outro, o desencontro e a solidão. Traços de uma poética-construção da história da mulher em suas variantes sócio-culturais, mas convergentes quando explicam o processo de “feminilização” da fêmea humana.
E como apetrecho poético, a narradora de Água Viva encerra a sua carta-poema lotada de definições identitárias dirigindo-se ao outro, consciente de si:

“E eis que depois de uma tarde de ‘quem
sou eu’ e de acordar à uma hora da
madrugada ainda em desespero – eis que
às três horas da madrugada acordei e me
encontrei. Fui ao encontro de mim.
Calma, alegre, plenitude sem
Fulminação. Simplesmente eu sou eu.
E você é você. É vasto, vai durar.
(...)
O que te escrevo continua e estou
enfeitiçada.”(p.87).

Então o amor se desconstrói, mas prossegue em encantamento.
P.S.: Hoje ela faz 88 anos. Bravíssima!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Norah Jones


E tão docemente ela apareceu em 2003 e alegria e "delícia" trouxe aos meus ouvidos. A voz afinada e a cara de brasileira linda - me pareceu uma baiana criada no Rio de Janeiro. E bela. Desejável como poucas. Uma incursão minha em loucuras amorosas e ,toda ela, Norah, como trilha sonora melhor. Foi um sonho de felicidade, vivido, algumas vezes, embaixo de fininhos lençóis... Uma música miscigenada apontada para o Jazz , num ritmo Billie Holiday, raios bethânicos e a vida singrando-me em satisfação. Norah prossegue. Grande cantora e pousando no cinema. Sua pequena discografia é um emblema do seu raro talento. Ouvi-la sempre me faz bem e o corpo, além do espírito, muito agradece.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vanessa da Mata


Hoje,
Manhã com o cheiro de vanessinha - coisa quente e doce.
Jeito de aconchego e aconchego de mulher. Inteirezas do humano que Deus fez melhor.
Mulher. E Vanessa da Mata cantando à luz da sua beleza. Destreza. Gostosura intra-sensorial.
As mãos tocando - me vermelho e a canção que sente vida.
Não sei se é um dia de alegria. Começou com ela me acordando e eu me enchi de desejo.
Um bom dia vanessinha e eu tenho três CD's dela para escutar.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Brad

Era mil novecentos e noventa e nove e alguma coisa na cabeça. Uma presença masculina não branca e quase adulta aquecendo a vontade de ter perto o corpo dele já que ele existia no coração. Era o traço da beleza sublime no caminhar do menino que ia sem voltar. Menino sem juízo na mente sangrando. Eram dois olhos castanhos vindo na percepção do que foi pelo correio. Brad - imagem da representação bem menor, em beleza, no tudo que era ele aos olhos daqui.
Esses assombros eternos da vida e românticos porque os corpos não se experimentaram.
E Brad é essa absurda representação do que melhor só vindo dele. O menino deus.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Maria


Ver e ...basta!

Realce


Foto: Lita Cerqueira, 1978. Fonte - Terra Magazine.
Não sei se medo ou se proteção
O olho que vem do mistério
E que pára no meio do caminho.
Não sei se extraio a beleza
Ou grito a denúncia
Se vibro em silêncio
Se dasatino a falar sozinho.
O que eu olho mas não vejo
Na imagem d'água que me ocupa?
Brilham trilhas sonoras na retina da menina
- Toda menina baiana -
Ano de 1979
Peso imagético da esperança
Que a câmera vê e realça.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Salve Santa Bárbara!

Terceira homenagem 2008
Os dias 04 de dezembro, na minha infância, sempre eram os mais esperados por mim. Era dia de vermelho, de comprar roupa nova, sentir o cheiro das flores, ver todo mundo lá em casa preparando o caruru, saborear o azeite, louvar os santos e os orixás, rezar para Santa Bárbara...Acreditar que as coisas poderiam ficar melhores. Dia 04 era, e ainda é, símbolo de festa e esperança. Mas, o melhor era ver D. Diva de saia rodada vermelha, bata branca, contas de Oyá e Xangô, pronta para entregar-se ao seu culto de amor religioso que muito me contaminou e por isso, tão fortemente por isso, sou devoto de Santa Bárbara e vibro com o início de dezembro à luz do verão da Bahia, que nesses dias acomete-se de raios e trovoadas. A presença de Santa Bárbara e Iansã é sempre revelada... Como dizem alguns: Bárbara é protegida de Oyá, então, Eparrei às duas!!!
P.S.: É bom sentir felicidade! E ter Fé!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Iansã

Segunda homenagem de 2008
"Para onde vai a minha vida e quem a leva?Porque eu faço sempre o que não queria?Que destino contínuo se passa em mim na treva?Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?"
Maria Bethânia de Oyá
Senhora das nuvens de chumbo

Senhora do mundo dentro de mim

Rainha dos raios, rainha dos raios
Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim

Senhora das chuvas de junho

Senhora de tudo dentro de mim

Rainha dos raios, rainha dos raios

Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim

Eu sou o céu para as tuas tempestades

Um céu partido ao meio no meio da tarde

Eu sou um céu para as tuas tempestades
Deusa pagã dos relâmpagos

Das chuvas de todo ano

Dentro de mim, dentro de mim
Gilberto Gil e Caetano Veloso
P.S.: Amanhã é 04 de dezembro, é dia de Santa Bárbara!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Primeira homenagem 2008
“Salve salve deusa musa
Teu vermelho de sangue quente
Tua força de cerrar os dentes

Os pulsos abertos
Derramando trovoadas
A magnética luz
Das entranhas do céu

Rebolas impassível
Sob o filete rubro
Dos amores rasgados”.
Vitor Carmezim

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Guimarães Rosa


Há lugares que são pura inventividade.
Transbordam de tudo que nos alimentam.
Reinventam a vida, pois reinventam o olhar.
Lugares do Rosa da alma da língua em silêncio.
A palavra sonhando e trazendo o vento da inspiração.
Palavra movimento em minímas especulações,
Que desafia a norma dominando-a e tudo de tão grande...
É mais que pequenininho - voz da criança de lá
Iluminando as tentativas da criança de cá...
Luz e estesia em livros sagrados.
Lugares do Rosa no centro do coração.
Violação dos textos-cabeça.
Palavra que incita e cria pernas e braços e mãos
E viram asas transmutando horizontes.
Lugares das horinhas tristinhas da solidão
Mas a vida só não seria
Se eles não abrigassem a nossa imaginação.
Eu recebo o Rosa dos meus instantes,
E me sou todinho o amor daquela delicadeza.