Para Maria Prado de
Oliveira
Porque me pergunto dentro do texto sumidouro, ancorado no
pretexto de ter que negar quem eu sou. Alavanco essa falta de ciência para ter
como chegar às 22:30h. Horário sem novela, sem conversa, sem amor.
Às 22:30 o mundo dorme para acordar o melhor de mim. Descrevo
a dor de não saber fazer silêncio. Penso nas fotografias que emolduram a minha
casa cafona, tão minha como nunca fui de mim mesmo. Corro, nessa horinha, à
janela semiaberta para vir o que não deixei ir e marulham canções, ventam
emoções; esvaio-me nas brochuras que serão eu – o texto.
Lacunas – nunca soube juntar direito. Nem palavras, nem
sonhos, nem gestos, nem pessoas... Minha alma que se relata torna-se uma
espécie de espelho: que outra imagem se verá em mim?
Partilho-me em palavras feito sangue que contamina. Quero a
delicadeza. Quero a beleza que macula e faz pensar. Quero o instante que dá
fome. Quero o abrupto que faz criar. Quero navalhar o estar da minha cidade e
fazer do seu povo, pássaro da agressividade.
Não pergunto sobre o continuar, porque não investigo a morte.
O tempo é este. E só sei do agora. Só sei do que me abriga e obriga a
escrevinhar as entrelinhas do que mais sou. Retrato-me em cores escolhidas
arduamente por mim. Retrato-me aludido à Frida. Justaposto ao menino bandido
drogado no Largo em que habito.
Separo-me das sutilezas para ter-me no texto claro que tento
ser, mesmo sem saber quem ou o que eu sou. Escrevo. Contamino. Viro espelho de
ninguém e mesmo sozinho sei: multidões me acompanham.
Fecho-me em traços desta prosa rancorosa, mas aspirante. Um
dia, se futuro houver, a poesia tomará conta deste meu rosto criado aqui.
Então – eu serei silêncio sem precisar saber de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário