Bruges - Bélgica
Não sei se inspirado pela bela paisagem de Bruxelas, ou calcando meus pés no difícil ( e imprescindível) aprendizado em território estrangeiro, neste caso europeu, ou se mergulhado nos relatos de Paula Dip sobre as viagens de Caio Fernando Abreu, ou ainda, ouvindo a voz de Ney, por culpa de Caio, nos versos: "Beber o suco de muitas frutas, o doce e o amargo, indistintamente sugar o seio das possibilidades", estou entre pesado e deslumbrado, por esses dias, sem saber o que mais ser.
Meus olhos encontram e alcançam o que a língua não consegue. O frio é admissível e administrável, o terror é ter que calar de medo e vergonha por não saber falar o idioma dos outros. Neste caso, inteiramente, os outros são o inferno; não se fazem entender para mim. Será que é isso mesmo? Sem me aquecer em mistérios, urgentemente, preciso aprender a me comunicar com o mundo.
As ruas de Bruxelas são como caminhos de possibilidades; há tantos negros aqui; indianos também; árabes e outros povos islamizados... Um bairro africano e uma gente linda passando como se fosse, em imagem, o meu povo de Salvador. Mas não, eles falam muito bem o francês e o inglês e existem quase como belgas. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, mas são quase belgas, apesar de serem os mais pobres e de fazerem os serviços menos qualificados, de muitos perfilarem as ruas como pedintes, são quase belgas e falam francês.
Aqui o frio foi discreto e nos deixou elegantes... Um menino mijando é o símbolo de Bruxelas. Acho que Bruxelas é terra de bruxos, dos mais antigos entre os europeus. Jacques Brel e René Magritte são a sensação artística deles, patrimônio cultivado por eles, como deveríamos cultivar Dorival Caymmi, Batatinha, Jenner Augusto... Ah, por que ainda não existe uma grande Avenida, em Salvador, chamada Gilberto Gil? E não constroem um teatro que se chame Caetano Veloso, tão bonito e central, como o Castro Alves? Deveríamos ter um Teatro Municipal Caetano Veloso.
Daqui, nisso que significa a Europa, sinto ainda mais orgulho do meu povo, e de muitos artistas tão grandes quanto qualquer outro em qualquer lugar deste mundo.
Me banhei de felicidade em Bruges. Que cidade linda, parece cenário de filme de época; é história pura, bem cuidada, bem apresentada, romântica, minúscula, de tão linda, é quase solar. Pensamos no Pelourinho, de Salvador da Bahia... Será a falta da grana tão somente que nos impede de preservar, de cuidar, de iluminar? Lá, tudo é construção e já é ruína.
Tenho descoberto dentro de mim outros mundos. E sei a qual pertenço. Quero-me andarilho profundo, falante em outras línguas, mas irremediavelmente, eu sou baiano. Assim, como para Caetano, minha cidade favorita é a Cidade da Bahia.
E todo mundo deveria tomar uma cerveja em Bruxelas ouvindo Jacques Brel, que não é só Ne me quitte pas...
Os mais sensíveis, poéticos, artísticos, solitários, amantes, românticos, deveriam desaguar em Bruges, passear de barco, comer chocolate de todos os tipos, sonhar naquela paisagem sentindo ou pensando em Amor.
Bruges é linda: mais uma possibilidade.
2 comentários:
Mar, eu te leio para ficar em paz, e para sonhar sempre.
Amo você.
Marlon,
estou encantada com seu encantamento! Que coisa linda deve estar sendo essa oportuna viagem!Aproveite muitissimo e, se der, arregale os olhos em algum museu bem especial para depois nos contar sobre as coisas que o emocionaram. Essa terra é mesmo linda, mas com certeza estamos com Caymi e o João Valentão:...porque não há terra mais linda do que nossa terra...não há!
Abraços de Heloisa
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