São muitas as razões para se considerar Maria Bethânia como a mais representativa intérprete de Chico Buarque. A principal, sua paixão pela obra do compositor carioca somada à compreensão estética da cantora baiana sob...re as canções buarquianas. O projeto Circuito Cultural Banco do Brasil levou a seis cidades brasileiras a voz de Bethânia cantando e recitando Chico Buarque. Com a curadoria artística de Monique Gardenberg, Maria Bethânia iluminou plateias ecoando a lítero-musicalidade de um dos artistas mais adorados do Brasil.
Salvador, cumprindo seu desgaste e rebaixamento nas esferas da cultura brasileira, infelizmente, ficou de fora. Para não perder a possibilidade de ver e ouvir a estupenda Bethânia neste espetáculo, fui à cidade de Olinda, no enorme Teatro Guararapes, conferir a entrega da cantora ao repertório do seu compositor favorito. Exemplar como sempre. Dona da cena em récitas musicais e em trechos de letras de Chico. Doce como Oxum em Valsinha, aguerrida, linda e feroz, em Baioque, como Iansã. O público pernambucano a recebeu em polvorosa; gritos e aplausos intermináveis confirmaram o êxito do projeto comandado por Gardenberg, que nesta edição contou, em outras apresentações, com os artistas Lulu Santos, cantando Roberto Carlos, e Sandy cantando Michael Jackson.
Infernal é a palavra na boca de Bethânia. Sua voz, no palco, se abre como um livro a oferecer poesia ou qualquer outro prazer literário; ainda tem o som; tem o cenário expandindo sua coreografia e a banda competente a emoldurar um dos cantos mais bonitos no mundo contemporâneo. Ela cantou Chico não somente como um compositor, translucidamente, neste espetáculo, ela ratifica o seu “Buarque” como sujeito da sua inspiração e desfia as canções mais batidas e já tão conhecidas com a paixão que as transforma em novidade.
Os pés descalços, figurino alvo, voz no ápice e, imageticamente, alicerçada na Bahia efervescente e inigualável, a qual ela é uma das mais poderosas representantes. E abre para o Carnaval para quem possa e mereça lhe acompanhar.
Maria Bethânia é, mais que artista, uma obra de arte.
Publicado hoje (03), na página A3 do jornal A Tarde.
Publicado hoje (03), na página A3 do jornal A Tarde.
Um comentário:
Será que ela é moça?
Será que ela é atriz?
E se um arcanjo passar o chapéu?
Bethânia e Chico se fludificam em uníssono e polifonias possíveis...
E seu texto emana esse encontro!
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