Em finais de março deste ano, a grande cantora
santo-amarense lançou o seu mais recente trabalho intitulado Oásis de
Bethânia, um disco que aponta para algumas reinvenções estéticas que a artista,
do seu jeito, não deixa de operacionalizar. Trouxe compositores que se afinam
com seu perfil de intérprete, destaque para o baiano Roque Ferreira, que logo
terá Maria Bethânia como a voz principal da expressão do seu talento
lítero-musical.
Mais um trabalho precioso desta baiana incansável. Agora, o
momento mais marcante e polêmico do disco remete a questões
sócio-antropológicas, no universo das religiosidades e identidades das quais
Bethânia nunca se distanciou. A canção Carta de amor, erguida a partir de um
contundente texto poético de autoria da cantora, que foi musicado e acrescido
de versos por Paulo César Pinheiro, representa genialmente uma resposta contra
os detratores do blog “O mundo precisa de poesia”, e dos arroubos injustos e levianos
que agrediram a artista mais importante da canção brasileira na atualidade.
Indo por “Não mexe
comigo que eu não ando só”, passando por” A rainha do mar anda de mãos dadas comigo/ Me ensina o baile das ondas
e canta, canta, canta para mim”, chegando a “Sou como a haste fina que qualquer brisa verga/Mas nenhuma espada corta”,
para dizer ao Brasil de onde ela veio, de como aprendeu a sentir o mundo e que,
com seu talento, transmite e louva os elementos que traduzem a sua fé de mulher
nascida na Bahia.
Uma Carta de amor, sim. Que foi incompreendida por jornalistas,
como Pedro Alexandre Sanches, afirmando que a artista destilou ódio num texto
intitulado como amor. Na canção, Bethânia dói e recorre à proteção em que ela
acredita; pontualmente magoada, ela subverte a dor com a força que lhe é
peculiar e se abriga, como menina, à luz do amor que sua espiritualidade lhe
entrega.
Uma carta de amor dirigida a Deus, Nossa
Senhora, Orixás, Caboclos, Zumbi, Buda, Gandhi, ao divino que se
permita... E contra a intolerância que
fez esta oração nascer
(Publicado em 04/07/2012, no Jornal A Tarde, página 03, Caderno Opinião, Coordenação Jary Cardoso)
Um comentário:
Nego, o seu texto sulca a minha carne em luz e posso me ver reluzindo e espelhando-me na beleza das suas palavras.
E eu me rasgo... por orgulho em conhecer Marlon; pela honra de ser baiana como Marlon e Bethânia.
E me encho de amor ao ler o seu declarado amor à diva Bethânia.
Saber viver o amódio é privilégio de poucos... transformar amódio em arte é sabedoria para elegidos.
Beijocas,
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