Horrível ter que ser o que os outros desejam. Viver para anoitecer e no escuro de si mesmo, ensaiar solitário um melhor que se poderia ter na vida. Difícil essa avalanche de desejos se desenhando impossíveis e atormentando os recomeços. O tempo desaba sobre o pensamento no vazio de uma cidade desconhecida. Tudo igual aqui e quando, de novo, for lá. Os instantes - as repetidas memórias do que deveria ter sido mas não foi e ainda há. Ensaio de gente obtusa, maluca, faminta, sedenta, solitária, sóbria e vulgar. Um pouco de mentira pois nem tudo se pode revelar. Um pouco de coragem porque alguma coisa precisa ser dita e nada deverá retornar.O caminho é à frente; gostar é à frente; o lugar é à frente.
Demorando o sentido das coisas horríveis que perfilam o único jeito da possível salvação. E que ocupa o vazio do papel, a vastidão da cama, o silêncio ventilando e a alma. Madrugada na cidade estranha. Frio no sertão da Chapada Diamantina: o corpo cansado e sem sono, sem viço, sem proposta - mas há: arestas nas demandas que não se conseguem cumprir. A mão ensaiando traços a favor da inspiração. Uma lua que agride porque nasce para outros.
Anjos passeando pelo peito para que a fé não seja abortada e Deus. Assim que nascer manhã, com direito ao sol alheio e todos os seus segredos e a fala desconsertada concordar com o que não queria.
Uma manhãzinha de luz para ser o que os outros mandaram e no intervalo da auto-sublevação, no movimento do fastio gerando revolta, como se de repente, fazendo valer os ensaios notívagos, se instaura a semente da indignação e daí: um melhor devir.
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