segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Clarice Lispector

Eis a minha escola melhor, maior, mais íntima. A forma mais intensa do meu aprendizado - palavras desbragadas minhas naquele jeito sublime de dizer tudo que nos basta. Eis esse mistério reluzente à frente de todo futuro que terei e que sempre me fez respirar, calar e viver o impacto da sua escrita. Eis o meu olhar naqueles olhos de dor e criatividade; a cara da mulher calada, cênica, mítica, mãe e senhora do eterno adeus...
Eis esse desapego dos entendimentos, a máxima dos sentimentos, música dilacerante da existência que fez da vida ARTE.
Palavra que dói, que sangra, mas que salva. Salva da solidão e do tédio. Nos impele a enfrentar nossos inconfessáveis segredos e amplia nossa imaginação melhorando as personagens que escolhemos ser cotidianamente.
Palavra que arde e abre profundas possibilidades... Às vezes irreversíveis.
P.S.: Hoje é uma noite escura, ouço Cida Moreira cantando Chico Buarque, trabalho em um release sobre Rilke, estou em um museu lindo, a cidade ainda é Salvador, o tempo é quente, coisas do verão, minha memória é de Caio Fernando Abreu e Clarice: contos da minha assombração amorosa. Acho que estou vivo... Sinto falta de ar. Estou vivo nesse tédio sem Clarice e olho dentro dos seus olhos na esperança do azul/castanho que me alimenta; pego Felicidade Clandestina e vago no meu desejo de ser escritor e talvez, amado. Hoje é quente e escuro e Salvador e tédio sem brisa sem mar e eu em outra existência. Meu peso é o peso de Clarice. Perdão a todos.

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