A vida é o que mais ensina. Não adianta meu desespero de agora frente à morte de Amy Winehouse, nem das dificuldades que sinto recebendo o veneno saído das dores incuráveis dos amigos. Melhor fazer silêncio e minimizar as autoritárias assertivas de quem, em convívio, se lança a macular histórias e trajetos de outros que vivenciam o mistério das religiões dos orixás.
Este texto nasce de minha indignação. Uma quase revolta que se perfila dos constantes sibilos de proto-neófitos apartando-me dos elementos mais caros da minha espiritualidade: o âmago de mim: minha força e luz maior: fonte das minhas palavras: Iemanjá Senhora do que posso e tenho e faço e vou...
Este texto nasce de algumas perguntas que nem deveriam ser formuladas: qual o jogo ou intuição de fé e transcendência que habilitam a alguns a ratificarem minha composição espiritual? E pior: a desabonarem o jogo legítimo e histórico de uma senhora de 70 anos de iniciação? O que impele essas pessoas a tal translúcida certeza em afirmar algo para além do que sou eu em mistério e representação?
As dinastias imperiais das Casas Tradicionais em suas hierarquias de certo e errado, desprezando a complexa rede que dá sustentação ao título povo-de-santo; o jogo da pirraça e do expurgo para aliviar as torturas existenciais; o insucesso das agremiações políticas realçando a solidão individual de cada um; e o mais forte: a impossibilidade, por falta de fé, de manter uma relação íntima com a força que compõe o deísta e que o faz seguir altaneiro: seu santo anjo da guarda arcanjo protetor. Talvez sejam respostas mais acertadas e fáceis para o esquizofrênico quadro de quem tenta tirar um indivíduo do seu lugar de conquista e força, para irresponsável e politicamente, marcar no outro o que as aparências (tão enganadoras) promovem.
A vida ensina mais. E cada vez mais sou fanático em nome de Iemanjá e Oxoguian. E em nome de Iemanjá saio em luta para que não me apartem Dela em publicidades daninhas, pirraças diminutas, discursos racionais; por minha Rainha sou inteiramente louco e escrevo e berro e não deixo, às claras, que me destituam da experiência maior nesta existência: meu vínculo ORI com este orixá.
Eu sei o que me trouxe até aqui; os caminhos que tracei, os buracos que saltei e o alívio que senti com as mãos de Dona Zulmira de Nanã sobre minha cabeça ( 24 de julho de 2010). E sei também do meu renascimento, em 04 de outubro de 1983, raspado pintado catulado por Lelu de Ogunté, minha mãe duas vezes. E sei também, do que jorrou em mim e marca as Áfricas que tomam meu corpo mestiço e define minha aproximação desse universo negro que respiro, pois minha alma é assim, a cultura prevalece ainda mais se há sintonia estética e emocional com o que aprendemos a ser e amar.
Por favor, senhores e senhoras que aprendem agora, que caminham para experiências da fé nesse tempo de torturante abandono e de intrigas por esporte; não ataquem em modelares negligências a competência litúrgica das pessoinhas de santo que me iniciaram no candomblé. Eu sei de mim; por isso que, quando saí da obrigação, eu reluzi. Oxalá é minha vida! E Iemanjá é o centro que a movimenta! Meu ORI.
Este texto é toda minha loucura e indignação – por reiteradas vezes -, perceber, depois de anos, falas de gente tão novinha nesse mar tenebroso e gigante que é o candomblé, me dar tantos orixás, e mais suavemente, me dar Oxoguian ( que é meu ).
Quem vai dançar em mim é Iemanjá. Ela me escolheu. É dela que me vem esse poder que tenho e pouco dele vou falar. Ela me sustenta no íntimo de nós dois com uma força que mete medo, quando não, inveja! Imagine se eu tivesse a pele preta?
Nasci no candomblé, minha gente: entre prostitutas e senhoras de família, aprendendo este imaginário religioso, que sempre pratiquei até quando fui evangélico, e hoje, com competência e certo brilhantismo, estudo antropologicamente, mesmo sem ter graduação em Ciências Sociais. Eu incomodo, eu sei.
Mas também sou incomodado. Por isso, minha simplificação: Iemanjá, Poesia e Antropologia... E é, justamente, desses três que meu entorno me quer arrancar...
Arranca não, filhos e filhas. Eu sou Adê Okún, filho de Ogunté e Oguian, doce maternal e briguento, louco por palavras e sonoridades; ebomy ( de tempo e de verdade!) do candomblé ( fora do eixo celeste), mas do candomblé. Não importando a que nação eu pertença: Peço Respeito!
E saibam: Iemanjá dança por nós e por mim, Ela briga. Odô Iyá!
Um comentário:
Somente isso:
Motumbá, irmão!
Postar um comentário