segunda-feira, 20 de maio de 2013

Clarice



Antes mesmo de ser morte já era encantamento e seguia o tal segredo da vida: não ter segredo algum. Antes de ser sorte era o tratado absoluto do talento em necessidade: a escrita na projeção da dor, a palavra como terapia. Era o mais longe, a presença falsa como imagem ao espelho do mais verdadeiro. Enxurrada controlada pelo brilho do que nasceu para não ser dito, revelado, estimado, vivido.

Era o escondido que habita inadequadamente e de tão inóspito se nos salva de nós mesmos. Entrelinhas da inspiração. Modelagem à pele da pedra. Constante insatisfação. Amor romântico imorredouro. Desenho à pedra do amor impossível. Sem medo da eternidade ao peso da luz. Faísca carmesim no céu da Rússia. Mão livre escrevendo outro país.

Assim era com a pressa do ter que nascer, renascer, re- co-me- çar... Sempre. A vida sem lugar e sem pertença. Uma errância erudita com sede popular. Feição popular. Destino popular.

O texto música da história cinematográfica da escritora me confundindo a vida. E exatamente aí, no cerne da confusão, a vontade louca de querer fazer e acontecer em epifanias da profunda emoção.

Aniversariar. 

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