Eu não suporto sentir o vazio, prefiro trabalhos com mágoa,
distância, ressentimento, raiva, compaixão. O vazio me extermina frente a mim
mesmo, quando me pergunto se alguém perguntou por mim. Quando me pergunto se
aquele alguém se lembra de mim. Quando especulo na confusão do meu coração se
este alguém sente ternura por mim. Quando nada me responde nada e minhas
viagens desesperadas transmutam-se em miragens abraçando o corpo amado que é o
centro imenso das minhas perguntas.
No fundo, no profundo sumidouro do espelho, ecoa a dura
resposta que não busco: não há ninguém. E chove sobre o meu silêncio. E molha-se minha
roupa única. E busco entradas, saídas, subidas, descidas, esquinas que me
tragam sentido. Insisto na alvorada em frente ao mar. Recito versos repetidos
que aprendi aos treze anos. Embriago-me de mim e cerveja e busco busco busco
busco busco busco busco busco busco.... Sem encontrar.
Lanço cartas eletrônicas e na falta de respostas retorço-me
de vazio e medo. O tempo secando meu corpo ávido daquela risada; o meu choro
semente somente consolo; a mulher cantando implodindo meu coração; minha alma
vazante na água fértil saída da genitália inatingível do poeta. Cortinas se
fechando. O sol na cabeça do outono da velha cidade. Grito na madrugada. Três horas
na imensidão de quem não dorme. Madrugada de quatro pra lá e pra mim.
O longe ficando ainda mais longe nessa vida que o impregnou aqui.
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