Tão suave que eu desapareço, entre naves e afogamento,
disforme, engolido pela terra, sozinho no quarto vão do apartamento, à espera
deveras, ouvindo canções, secando livros, sem lágrimas, mudo ao interno,
largado ao externo de um desejo sem futuro.
Visualizo a coragem. Meus dentes mordem a maça, se vivo em
pecado não sei do seu sabor. Horrível ter esperança em pleno afogamento. Eu que
frequento mar, rios, lamaçais, bueiros, esgotos, chuvas, gotejos, pingueiras,
cuspos. Eu – descendo essa escada que me leva à esquina de um lugar sem
precisão. Eu – que preciso tanto de abraços que me sequem, que me sirvam
sentido, que tolerem a minha emoção.
Eu que vasculho a embalagem dos presentes alheios, e deixei
meu coração nos Ciprestes a alguém que o entregou aos leões. Que recito o que
leio como se fosse meu, que recrio minha vida modulada no espelho, temendo o
tempo, chorando ao ventilador, sentindo frio acima da cidade, correndo todos os
riscos, mas vendo a coragem. Eu me sinto, mas não me entendo.
Sigo. Entre gritos e silêncio. Ressoando em arestas que são as asas negras
do anjo na canção que sabotei o nome. Pegado à parede da confusão, cínico como
as teorias que me querem explicar o desejo; vazio de gente, mas adorando gente
numa espécie de aquário que criei para representar a minha admiração.
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