quinta-feira, 9 de maio de 2013

Maio é consumação



Então é maio. A carroceria das mudanças, a cena da transformação, o barulho do peito alertando para o recomeço anual que tem que ser aceito. É maio no entorno do que vejo, as configurações de intolerância geral, o desatino humano, a gente carente de gente, a falta de abraço, a sanha por dinheiro e poder, a deselegância... O mês que me ilumina, pois marca o meu nascimento neste mundo, neste agora, o instante tão rápido que me parecerá um segundo.

Em contrapartida, é maio na esperança... Luz vindoura do centro do peito a cutucar sonhos, a querer silêncio, a pedir abrigo, evitar fuxicos, acalmar para renascer. Maio dos outonos de mim, musicalidade serena do que crio para me ter melhor. Maio dos olhos castanhos e doces da minha saudade, da poesia menino a me ter diante de Deus e formular notinhas jornalísticas como prece para o amor. Maio dos escritos no papel, na tentativa do poema, do dilema formal, dilema carnal; das flores em rosa à luz das boas perspectivas. Maio toque em atabaques, fé que me sustenta, rosas brancas na mão, golfinhos e baleias a despertarem o mar.

Maio também como permissão. Possibilidade. Vontade. Coragem de fazer. Movimento em prol da vida deixando-se em faíscas da loucura que nos faz sobreviver. Maio para a saúde. Dança da mulher negra linda comportando tudo, deixando o que tem  a ver.

Maio daqueles olhos acontecimentos na canção de Marina. Um raio cortando o céu, a conta fina de Oyá no pescoço. Maio tira-gosto, sorvete que engorda, aconchego no colchão, cultura na cidade de São Paulo, jantar ao som de vozes queridas saboreando poesia, bebendo vinho, rindo e chorando, vivendo, partindo.

Maio é consumação.

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