Então é maio. A carroceria das mudanças, a cena da
transformação, o barulho do peito alertando para o recomeço anual que tem que
ser aceito. É maio no entorno do que vejo, as configurações de intolerância
geral, o desatino humano, a gente carente de gente, a falta de abraço, a sanha
por dinheiro e poder, a deselegância... O mês que me ilumina, pois marca o meu
nascimento neste mundo, neste agora, o instante tão rápido que me parecerá um
segundo.
Em contrapartida, é maio na esperança... Luz vindoura do
centro do peito a cutucar sonhos, a querer silêncio, a pedir abrigo, evitar
fuxicos, acalmar para renascer. Maio dos outonos de mim, musicalidade serena do
que crio para me ter melhor. Maio dos olhos castanhos e doces da minha saudade,
da poesia menino a me ter diante de Deus e formular notinhas jornalísticas como
prece para o amor. Maio dos escritos no papel, na tentativa do poema, do dilema
formal, dilema carnal; das flores em rosa à luz das boas perspectivas. Maio
toque em atabaques, fé que me sustenta, rosas brancas na mão, golfinhos e
baleias a despertarem o mar.
Maio também como permissão. Possibilidade. Vontade. Coragem
de fazer. Movimento em prol da vida deixando-se em faíscas da loucura que nos
faz sobreviver. Maio para a saúde. Dança da mulher negra linda comportando
tudo, deixando o que tem a ver.
Maio daqueles olhos acontecimentos na canção de Marina. Um
raio cortando o céu, a conta fina de Oyá no pescoço. Maio tira-gosto, sorvete que
engorda, aconchego no colchão, cultura na cidade de São Paulo, jantar ao som de
vozes queridas saboreando poesia, bebendo vinho, rindo e chorando, vivendo,
partindo.
Maio é consumação.
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