segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Do começo ao fim: a vida e o amor são culturalmente naturais

Mosaico do Amor

As padronizações, as regras, as normas constituem-se como "mal necessário" para um convívio respeitoso entre nós, nas mais diversas sociedades. Nem sempre elas são legítimas e não conseguem, é claro, satisfazer e contemplar as nossas diferenças. Mas enquanto houver vida e humanidades o mistério será sempre o nosso maior aparato, para não dizer, barato.
É sobre as linhas impressionantes do mistério que se escreve a narrativa fílmica Do começo ao fim, uma bela história sobre a possibilidade do incesto e do amor sexual entre irmãos do mesmo sexo. Uma história contada com leveza dentro dos limites da naturalidade que compõe o tema. Difícil, mas real e também natural, por mais que não queiram admitir. Dois irmãos crescendo juntos e movidos por uma forte afeição que ultrapassa os símbolos da irmandade fraterna e exibida como normal no planeta. É mágico o olhar de susto, preocupação, respeito e amor da mãe, personagem vivida por Júlia Lemmertz, que mesmo envolvida pelo medo da constatação sobre a relação incestuosa entre os filhos, os acolhe sem marcas da brutal repressão e da vulgar condenação que acontece sempre em outras histórias de menor complexidade que a vista em Do começo ao fim. Uma revolução no cinema brasileiro. Um filme pra deixar gente vomitando em nossas salas elegantes; pra assustar os cânones de normaliddae cênica exigidos pela Globo. Um filme que não nega nossos riscos e nem apresenta a vida engessada pelos compósitos de hipocrisia e farsa que nos traduzem majoritariamente. Serve para pensar e imaginar que o amor, o sentido maior no que chamamos de existência, é uma vastidão de possibilidades e coaduna-se com as fontes profundas que resguardam, em nós, os nossos mistérios.
Nada a lamentar, ao contrário, bravos agradecidos a Aluízio Abranches.

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