Também é do Obá Kossô, o orixá Xangô dos iorubanos, segundo
os registros memoriais dos mais antigos do candomblé baiano, a herança
religiosa que ergueu o Terreiro do Cobre, fundado pela lendária Margarida de
Xangô, mãe de Flaviana Bianc de Oxum, proeminente seguidora dos ensinamentos
ancestrais desta Casa, que, hoje, é governada pela jovem e atuante Valnízia de
Oliveira, mais conhecida como mãe Val de Airá.
Mãe Val, com apenas 52 anos, jovem em relação à temporalidade
que marca a grandeza sacerdotal das damas do nosso candomblé, comanda com
doçura, sabedoria, honra, respeito, tradição o importante Terreiro do Cobre,
memorável na Bahia, no que diz respeito às liturgias que configuram a chamada
nação de Ketu. Uma elegante senhora que foi iniciada nos idos de 1976, no seio
da tradição jeje-nagô: o Terreiro da Casa Branca, hoje sob os cuidados de mãe
Tatá de Oxum.
A história é esta: Mãe Val é herdeira absoluta do matriarcado
sacerdotal do Cobre, mas teve sua iniciação no Ilê Axé Iyá Nassô Oká, conhecido
como Casa Branca, o primeiro do Brasil advindo da tradição composta pelo antigo
Terreiro da Barroquinha. Sua trajetória espelha a de muitas mulheres negras que
nasceram com a missão de cultuar, no comando, os orixás que hoje exprimem a
cara física e ancestral da maioria do povo nascido na cidade do Salvador.
Ela faz um expressivo sacerdócio unindo sabedoria litúrgica ao
bom senso que deve guiar qualquer liderança e imprime sua alteridade ao lidar
com respeito com as diversidades étnicas, sexuais, ideológicas, combatendo - é
claro! - o racismo, a homofobia e outras intolerâncias. Uma dama ao tratar com seu povo de santo, a
dialogar com os irmãos de outras nações, como os ainda subestimados da nação
Congo-angola, tão majestosos ancestrais tradicionais quanto ela mesma. Ou seja,
mãe Val não faz favor a ninguém, só reconhece a grandeza do outro.
Essas linhas, que narram a presença desta mulher, nascem das
águas de Iemanjá e Oxaguian em nome de Airá, soberana força que ajuda mãe Val a
perpetuar o sagrado negro em nós.
(Publicado no Opinião do Jornal A Tarde, em 27/04/2012)
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