domingo, 29 de abril de 2012

Mãe Val de Airá: emblema sacerdotal



Também é do Obá Kossô, o orixá Xangô dos iorubanos, segundo os registros memoriais dos mais antigos do candomblé baiano, a herança religiosa que ergueu o Terreiro do Cobre, fundado pela lendária Margarida de Xangô, mãe de Flaviana Bianc de Oxum, proeminente seguidora dos ensinamentos ancestrais desta Casa, que, hoje, é governada pela jovem e atuante Valnízia de Oliveira, mais conhecida como mãe Val de Airá.

Mãe Val, com apenas 52 anos, jovem em relação à temporalidade que marca a grandeza sacerdotal das damas do nosso candomblé, comanda com doçura, sabedoria, honra, respeito, tradição o importante Terreiro do Cobre, memorável na Bahia, no que diz respeito às liturgias que configuram a chamada nação de Ketu. Uma elegante senhora que foi iniciada nos idos de 1976, no seio da tradição jeje-nagô: o Terreiro da Casa Branca, hoje sob os cuidados de mãe Tatá de Oxum.

A história é esta: Mãe Val é herdeira absoluta do matriarcado sacerdotal do Cobre, mas teve sua iniciação no Ilê Axé Iyá Nassô Oká, conhecido como Casa Branca, o primeiro do Brasil advindo da tradição composta pelo antigo Terreiro da Barroquinha. Sua trajetória espelha a de muitas mulheres negras que nasceram com a missão de cultuar, no comando, os orixás que hoje exprimem a cara física e ancestral da maioria do povo nascido na cidade do Salvador.

Ela faz um expressivo sacerdócio unindo sabedoria litúrgica ao bom senso que deve guiar qualquer liderança e imprime sua alteridade ao lidar com respeito com as diversidades étnicas, sexuais, ideológicas, combatendo - é claro! - o racismo, a homofobia e outras intolerâncias.  Uma dama ao tratar com seu povo de santo, a dialogar com os irmãos de outras nações, como os ainda subestimados da nação Congo-angola, tão majestosos ancestrais tradicionais quanto ela mesma. Ou seja, mãe Val não faz favor a ninguém, só reconhece a grandeza do outro.

Essas linhas, que narram a presença desta mulher, nascem das águas de Iemanjá e Oxaguian em nome de Airá, soberana força que ajuda mãe Val a perpetuar o sagrado negro em nós.
(Publicado no Opinião do Jornal A Tarde, em 27/04/2012)

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