sábado, 18 de setembro de 2010

Aos jornalistas



Se me fosse dado o direito de decidir se deveríamos ter um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, eu não hesitaria um segundo em escolher a segunda opção, disse Thomas Jefferson em 1787.

Se a mim me fosse dado o direito de julgar tudo que Jefferson fez e escreveu, esse gigante do pensamento e da ação, eu não hesitaria um segundo em escolher essa como sua melhor frase.

Rádio, TV, internet, estou certa que Thomas Jefferson, como eu, iria se apaixonar por todas essas ferramentas da notícia. O importante é que a notícia circule livremente, bem dada, com isenção e justiça. A notícia deve chegar até nós limpa e clara.

Sou muito grata à nossa imprensa. Falo com tranquilidade pois não sou jornalista, que dirá repórter. Sou uma escrevinhadora que diz aqui o que sente, o que pensa, o que deseja para quem ama, para si, e para o Brasil.

Mas sem a imprensa para nos manter informados, como juntar as ideias e concluir o que queremos?

Sou membro declarado dos 4%. Estou muito confortável aqui dentro do fusca. Não pretendo sair daqui. E não pretendo aceitar mordaças e outras palhaçadas.

Quero continuar a saber o que se passa em meu país. Quero ter uma imprensa livre para transmitir as notícias tal como elas aconteceram e analistas e colunistas para comentar o assunto e nos dar sua opinião.

Como é que nós, cidadãos contribuintes eleitores, poderíamos ficar sabendo de tudo que se passa na cidadela lulopetista, se não fosse a imprensa? Como saber que o coração do governo – a imagem, excelente aliás, é do presidente Lula – ia ser atacado dessa maneira torpe e voraz?

Como íamos ficar sabendo que o ex-governador Serra, irritadiço, não teve controle suficiente diante das perguntas de uma jornalista, num programa em que estava sendo entrevistado para falar de si e de seu programa de governo?

Como ficar sabendo que o líder do PT no governo disse “Por que a Dilma precisa falar desse assunto? Não foi ela quem admitiu nem demitiu Erenice. A Dilma não tem nada com isso. Não é assunto de campanha é assunto de governo”!

(A frase desse senhor, aliás, é um primor. A Dilma não admitiu nem demitiu a amiga. Ela não tem nada a ver com isso! Quem admitiu e demitiu a Erenice foi o Lula. Então, ou muito me engano, ou a conclusão vaccarezziana é a seguinte: a culpa é do Lula!)

Dizem que está em gestação uma serpente: a imprensa calada.

Sabe o que conseguiram no tempo em que tentaram censurar a imprensa e calar nossas bocas? Que nós lêssemos cada palavra impressa no jornal mais de uma vez, três se fosse necessário, para pescar tudo que estava nas entrelinhas.

Gosto muito do Expresso, que leio para saber notícias de Portugal e, confesso, para tentar não esquecer como se deve escrever… E li hoje num blog muito simpático, A Tempo e a Desmodo, de Henrique Raposo, uma nota na qual constato, mais uma vez, que nosso cordão umbilical com a terrinha é muito forte e nunca foi cortado. Sabem o que ele diz dos seus conterrâneos?

“A parte sinistra disto tudo é a seguinte, my friends: os portugueses confundem democracia com estado social. A maioria dos portugueses não se importava de viver num Estado Novo com um Estado Social lá dentro. Não querem saber de parlamentarismo e de estado de direito. Querem é saber do seu Estado Social, do seu subsídio, da sua educação paga e da sua saúde paga (com um hospital dentro de casa, se possível). Querem, no fundo, viver num sítio onde tudo é de borla, e onde se vota nuns tipos que nos dizem que tudo deve ser à borla. Uma maravilha”.

À borla, para quem só fala brasileiro, é de graça. Se trocar portugueses por brasileiros e à borla por grátis, pode sair num blog daqui como coisa local.

Infelizmente, aqui também o que a maioria quer é tudo à borla, no aqui e agora. Ninguém parece muito preocupado com o Espírito da Nação. Que os desvalidos pensem assim e se vejam felizes por estarem usufruindo das franjas da fortuna, é mais do que compreensível. Mas os outros? Que desculpa têm para só pensar na matéria? Um bom ditador que ofereça tudo à borla seria muito bem vindo?

Por falar em Portugal, há um lindo fado que diz: “Foi Deus que deu-me esta voz a mim!”. No meu caso, infelizmente, é voz que não serve para cantar, mas é voz que serve para falar. Que eu pretendo usar até quando chegar a minha hora.

Hoje foi para dizer: obrigada, jornalistas que ralam para nos manter bem informados. Muito e muito obrigada.

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa escreve semanalmente no blog de Ricardo Noblat.

P.S.: Esse texto maravilhoso foi retirado do site POLÍTICA LIVRE, reproduzo aqui contra quem se coloca contrário ao exercício livre do jornalismo e contra as "gangues" dos jornalistas chapa branca que inviabilizam o talento e sugam e comem e matam em nome de cercadinhos, crachás, carguinhos, viagens e, é claro, trocadinhos.

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