Implacável tempo que cava na gente os buracos das distâncias e nos despeja nesse sentido perverso de retrocesso, de caminhar pela memória para muitas horas que vivemos atrás. O beijo que não foi dado, a entrega que não foi feita, o amor que secou sem secar; a pergunta que ampliou o mistério e o tombo discreto de uma época que foi quase feliz. 'Quase' - como destaque literário para o que nunca deveria ser; quase como o infame que aniquila a vontade de se sentir feliz.
E pior, o novo na forma das repetições que arranha o coração no descompasso da espera.
Implacável tempo que nos torna nada: minha eletrola toca a vívida voz sofrida de uma cantora universal. Toca para me descentrar de mim, tirar meu instante de reza, violar a esperança, me deixar com pressa; toca para que eu vague sem porquês e me seja um tipo de promessa que não vingou.
Imerso em muitas rachaduras temporais e ficando na nulidade de não ter mais tempo para sonhar. Inteiramente, quase...
Rodando dentro do canto que mais me desenha a força dos desenlaces. O eu que ainda espero. Vivendo momentos de outrora no explicativo de um presente perfilado em quase.
Nenhum comentário:
Postar um comentário