"Maria Bethânia faz literatura com a voz", analisa jornalista Marlon Marcos
Marlon Marcos
Do Rio de Janeiro ( especialmente para o Terra Magazine - 08/09/2010)
Talvez pareça pouco, mas é muito, muito proveitoso ficar durante uma hora ouvindo a cantora Maria Bethânia em récitas textuais aludindo poemas e poetas que fazem a história contemporânea da literatura em língua portuguesa e ainda, cantarolando trechos de canções que nos convidam a atentar para Poesia como alimento do espírito e instrumento imprescindível à educação efetiva nossa e de nossos estudantes.
O recital Bethânia e as Palavras, leituras, apresentado no último final de semana na cidade do Rio de Janeiro, na Sala 1 do Teatro Fashion Mall, em São Conrado, é uma breve tradução da força das palavras na voz da grande cantora. Não é brincadeira: Maria Bethânia, em se tratando da língua portuguesa, quando fala ou canta, vai além da fluência, e sonoriza nosso idioma como se estivesse a embelezá-lo ou realçá-lo para a sua exata compreensão. No cenário musical brasileiro, além de cantora, Bethânia é uma esteta da palavra e produz literatura com a voz, criando um produto fonográfico com afinco lítero-musical recheado de pesquisa etno-histórica, literária, musical, sem perder de vista a tradição popular e os aspectos religiosos que identificam o nosso afro-catolicismo tão presente no Nordeste deste País.
Nessa sua empreitada com a palavra, estimulada por várias premiações, entre elas a Comenda do Dessassosego, oferecida pela Casa Fernando Pessoa, de Lisboa, Bethânia reforça a sua preocupação com a educação no Brasil e afirma: "a poesia é sim para todo mundo. Isso aqui é para mostrar que se pode uma educação pública plena e de qualidade no Brasil, como antes eu e Caetano Veloso tivemos no interior, no Recôncavo baiano".
Uma hora ouvindo fragmentos de textos de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Sophia de Mello Breyner, Mário de Andrade, Fausto Fawcet, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Ramos Rosa e, infinitamente, Fernando Pessoa em seus heterônimos, de longe e de perto o poeta favorito da filha de Dona Canô. Uma hora para encontrar um tipo de beleza que anda fenecendo entre nós. Uma hora para se pensar em nossos estudantes e em nós mesmos e aguçar nossa vontade de reencontrar a palavra no formato sócio-educativo e nutritivo que as leituras daquela mulher nos trazem. Uma hora exata para reaprendermos que poesia é ar, comida, sexo, política, saúde e religião.
Sobre o fato de Bethânia dizer mais que cantar neste novo experimento, é bom que se saiba: nada de colocá-la como atriz afastando-a da música; Maria Bethânia é esta liminaridade, é como seria para a antropologia, o contínuo rito de passagem, misturando música teatro literatura, para o reflorescimento do estilo canção e da propagação da poesia como fruição estética e educação.
Ela escreve o Brasil na voz e conta histórias que podem nos ensinar a não ter vergonha de vencermos como brasileiros.
O recital Bethânia e as Palavras, leituras, apresentado no último final de semana na cidade do Rio de Janeiro, na Sala 1 do Teatro Fashion Mall, em São Conrado, é uma breve tradução da força das palavras na voz da grande cantora. Não é brincadeira: Maria Bethânia, em se tratando da língua portuguesa, quando fala ou canta, vai além da fluência, e sonoriza nosso idioma como se estivesse a embelezá-lo ou realçá-lo para a sua exata compreensão. No cenário musical brasileiro, além de cantora, Bethânia é uma esteta da palavra e produz literatura com a voz, criando um produto fonográfico com afinco lítero-musical recheado de pesquisa etno-histórica, literária, musical, sem perder de vista a tradição popular e os aspectos religiosos que identificam o nosso afro-catolicismo tão presente no Nordeste deste País.
Nessa sua empreitada com a palavra, estimulada por várias premiações, entre elas a Comenda do Dessassosego, oferecida pela Casa Fernando Pessoa, de Lisboa, Bethânia reforça a sua preocupação com a educação no Brasil e afirma: "a poesia é sim para todo mundo. Isso aqui é para mostrar que se pode uma educação pública plena e de qualidade no Brasil, como antes eu e Caetano Veloso tivemos no interior, no Recôncavo baiano".
Uma hora ouvindo fragmentos de textos de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Sophia de Mello Breyner, Mário de Andrade, Fausto Fawcet, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Ramos Rosa e, infinitamente, Fernando Pessoa em seus heterônimos, de longe e de perto o poeta favorito da filha de Dona Canô. Uma hora para encontrar um tipo de beleza que anda fenecendo entre nós. Uma hora para se pensar em nossos estudantes e em nós mesmos e aguçar nossa vontade de reencontrar a palavra no formato sócio-educativo e nutritivo que as leituras daquela mulher nos trazem. Uma hora exata para reaprendermos que poesia é ar, comida, sexo, política, saúde e religião.
Sobre o fato de Bethânia dizer mais que cantar neste novo experimento, é bom que se saiba: nada de colocá-la como atriz afastando-a da música; Maria Bethânia é esta liminaridade, é como seria para a antropologia, o contínuo rito de passagem, misturando música teatro literatura, para o reflorescimento do estilo canção e da propagação da poesia como fruição estética e educação.
Ela escreve o Brasil na voz e conta histórias que podem nos ensinar a não ter vergonha de vencermos como brasileiros.
Um comentário:
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