sexta-feira, 2 de março de 2012

Abismos

Para CAIO FERNANDO ABREU

"Vórtice, coragem, vertigem: qualquer abismo nas estrelas do papel brilhante no teto".CFA


Escrevo. No jeito de cair, no querer dizer: abismos. No fazer-se abandono para mais ter o inesperado da vida. O teto brilhando. E a coragem dentro do peito. Esse frescor da ida, os lugares todos à frente e medonhos; o sabor da ida.
Ir-se todo até no pensamento. Vertigem acima do medo. As palavras todas escolhidas. Luminescência. Possibilidade. Asco. Esquecimento. Bondade. Força. Delicadeza. Fé. Amor. Verdade. Excelência.
Ir-se todo ao comando dos ventos e sem retrospectivas. Ida pelo sangue, o rio vermelho condutor das renascenças. Rodopiar no olho do furacão em vertiginosa subida e assentar-se em si mesmo como maior conquista.

Ir como morte, renascendo para além do mistério da vida. O teto brilhando como escrita do desenhista do amor, o gaúcho flor das pétalas brancas, destino universal em dilacerantes dificuldades.
Escrevo caindo no abismo que criei. Sei que nem digo nem vejo nem alcanço. O abismo é o mais seguro porque todo alegria e movimenta contra tédio e apatia e, assim, eu escrevo.

Escrevo o silêncio que não faço. Em nome de saudade, de vontade, de ternura, de amizade e salvação.

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