domingo, 25 de março de 2012

A raridade de Jussara Silveira

A raridade de Jussara Silveira
É inexplicável o fascínio que o canto o feminino desperta na maioria dos seres humanos. O Brasil, desde a aparição das primeiras gravações e das exibições musicais ao vivo, foi realçando a presença imprescindível das cantoras; o Brasil se tornou o país das cantoras de uma das musicalidades mais poderosas do mundo. E a Bahia foi generosa à nossa cultura nacional também nesse quesito.
De alguma forma, na espreita da ancestralidade, a Bahia deu ao Brasil o canto minimalista e sublime de Jussara Silveira. Quase uma presença etérea no cenário musical brasileiro ( e baiano) por não ser reconhecida à altura do que seu talento gera musicalmente e nos qualifica para ouvir canções fazendo silêncio.
A imprensa baiana se calou frente ao lançamento de Ame ou se Mande, CD de 2011, deixando de nos informar sobre a preciosidade de um trabalho, construído sob as digitais de Jussara, que conforma várias noções de identidades, e de tão particular, universaliza e nos educa a recepcionar a beleza que a arte mais amada pode nos proporcionar.
Ame ou se Mande nasceu de incursões ao vivo da grande cantora pelo mundo afora; a canção que tem este título ficou de fora do CD por questões de direitos autorais, já que se trata de uma versão feita por Ariston de Love or Leave Me, canção imortalizada pela maior cantora do mundo de todos os tempos: Billie Holiday.
O CD é uma reunião que imprime a raridade da cantora aqui em delação. Denuncio as sutilezas desta mulher de 50 anos, radicada no Rio de Janeiro, nascida em Minas Gerais, mas criada em Salvador com seus pais baianos. Uma cantora que junta o melhor de grandes artistas que corporificam o poder da MPB. Denuncio o seu excessivo lado cool nos empurrando ao silêncio para valorizar nada mais, nada menos que a canção.
Há uma Bahia em Jussara Silveira que é a razão que me fez escrever este artigo. A Bahia que me condena à exaltação, ao orgulho desvairado. Que alimenta meu sonho de socialização. A Bahia do Quilombo Rio dos Macacos até o insuperável em Caetano Veloso.  Para saber, ouçam Ame ou se Mande.
(Publicado no Opinião do Jormal A Tarde, no dia 17 de março de 2012, p.3)

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