sábado, 31 de março de 2012

Carlos Barros: acordo musical com a doçura


Marlon Marcos
De Salvador (BA)

Ele nasceu na cidade do Salvador, no ano que explodia o evento cultural Doces Bárbaros, reunindo Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil, 1976. Desde criancinha, formatou-se intenso para conhecer o mundo através da ciência e das artes. Tornou-se cantor. Ao meio de, também, confirmar-se para o mundo como historiador e sociólogo, estudando o acontecimento, a invasão cultural neo-baiana pelas terras brasileiras, programada pelos ídolos maiores da sua existência. Os ditos acima.

Seu nome é Carlos Barros, 36 anos, revelação masculina do canto na Bahia. Dono de inteligência profunda, grande conhecedor da obra de Gilberto Gil, e a voz - ah, a voz que desliza feito água doce e anima a audição - é a expressão mais vívida de que a Bahia ainda está viva cá. Nome dos entremeios da criação, Carlos Barros canta como mulher sem perder a masculinidade. Autentica em si a força dos grandes intérpretes, singrando aprendizados em Maria Bethânia e Ney Matogrosso; formulando emissões em sua musa maior: a voz doce dos ventos, a cantora Gal Costa.

Sua trajetória artística confunde-se com o seu crescimento como intelectual que , através do ensino, incrementa o conhecimento valorizando, nesse cenário acadêmico, a Música Popular Brasileira. Afinado e inspirado em projetos que traduzem o seu viés de artista, o cantor lançou, há mais ou menos três anos, o seu primeiro CD Cantiga Vem do Céu, uma relevante seleção de canções, quase todas inéditas, que agraciam o ouvinte com poesia e sonoridades, e a impreterível pesquisa que reprocessa antigas informações parindo as novidades que divertem a vida.

Uma alma sensível encantada pela cidade do Rio de Janeiro. Um sujeito inquieto e voraz, crítico das mesmices, à vontade com a reverência que faz a artistas como Daniela Mercury, buscando o lugar de expressão que permita ecoar a doçura do seu canto. Um baiano, muitas vezes, maltratado pelas restrições culturais da cidade natal, mergulhada na ditadura fonográfica do Carnaval. Ainda assim, uma voz já amada por boa parcela do público que gosta de música versada com qualidade.

Barros já cantou no Rio de Janeiro e, em 2011, fez algumas apresentações na Bélgica, em uma pequena turnê que agradou as difíceis plateias belgas. Um dos seus trunfos é o cuidado excessivo com o repertório e a escolha professoral dos músicos que o acompanham. A voz é seu alicerce comunicativo, o que viabiliza encantamentos em quem o ouve. A diversidade das canções, as temáticas afro-baianas, principalmente as que espelham a religiosidade dos orixás, o sentido das cidades, o amor e o desamor, o ritmo e a brasilidade, corporificam o estar deste talento que pode dizer belas coisas em música para o povo brasileiro.

Depois de gravar seu primeiro DVD - Cantiga Vem do Céu, com as participações de grandes artistas que vivem na Bahia, como Márcia Short e Cláudia Cunha, com previsão de lançamento para outubro deste ano, Barros se dedica a uma série de shows que orientam esteticamente seu novo projeto fonográfico, um CD que começará a ser gravado no segundo semestre de 2012, sob a direção de Sebastian Notini.

Antes da próxima estação é uma sequência de shows, que começa a ser apresentada no dia 13 de abril, às 18:30h., no Auditório Kátia Mattoso, na Biblioteca Púbica do Estado, em Salvador, experimentando novas sonoridades que gestarão o novo CD, todo concebido a partir do conceito de urbanidades.
Nessa nova empreitada, Carlos Barros se acompanha da guitarra de Gabriel Barros, do baixo de Zé Livera, da percussão de Sebastian Notini que também é o seu produtor e diretor musical.

Essa canção precisa ser conhecida. A canção em si que é a voz do cantor que fez um acordo musical com a doçura. E pontua, junto com outros nomes, esperança artística para o cotidiano auditivo em cidades do estado da Bahia. E no Brasil.
( Publicado no Terra Magazine em 30/03/2012)

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