quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nelson Rodrigues, o descortinador




Foi na cidade do Recife, em 23 de agosto de 1912, que nasceu o mais controverso e genial dramaturgo brasileiro: Nelson Rodrigues. Poucos anos de sua vida foram vividos entre os nordestinos. Aos 04 anos, com sua mãe e seus cinco irmãos, foi para o Rio de Janeiro, onde estava seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, viver e vencer os tempos de penúria que eles passavam nesta época.

Nelson Rodrigues cresceu no Rio e se tornou um legítimo carioca. Sua história pessoal marcada de pobreza e tragédias, como o assassinato do irmão Roberto Rodrigues, perfila também as muitas superações que o escritor alcançou e conduz a leituras compreensivas sobre a sua obra marcada de realismo, azedor , escrachos, diagnósticos, sátira, contradições, erotismo.

Uma obra que retrata o jeito de ser do suburbano carioca, que brinca com os valores das classes médias urbanas brasileiras, que desconstrói este falso moralismo que representa nossa moralidade, que choca a alma e insinua as perversidades que temos todos em nós.

Um homem que circulou entre as pechas do pornográfico e do moralista, e revolucionou o teatro feito no Brasil. Suas peças, hoje, são uma espécie de extensão do humano brasileiro. A mulher sem pecado ( 1942), Vestido de noiva( 1943), Álbum de família ( 1945), Anjo negro (1948), O beijo no asfalto ( 1961), Toda nudez será castigada( 1965), ilustram e eternizam o valor dramatúrgico do gênio que nem chegou a completar o antigo ginasial.

Sua obra desdobrou-se em outras linguagens artísticas e alcançou o cinema. Sua verve criativa contrariava a esquerdistas e direitistas, religiosos e ateus, militares e civis, mas, o anjo pornográfico, o escritor maldito, sempre pautou discussões estéticas e comportamentais no coração do Brasil.

Nelson está vivíssimo, apesar de ter morrido em 1980.  Seus textos imputam reflexões históricas, antropológicas e sociológicas, como fez Adriana Facina, em seu doutorado, um estudo que gerou o livro  Santos e canalhas – uma análise antropológica da obra de Nelson Rodrigues, e deve ser conferido por quem admira o centenário escritor.
(Publicado no Opinião , p. 03, Jornal A Tarde, em 22 de agosto de 2012)


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