quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Me lendo em Clarice Lispector




Eu tenho medo e é mais vigoroso que meu tédio. Há, em mim, nas memórias, nas sutilezas da pele, no muchar dos olhos a presença de instantes que são as pessoas que se ausentaram. Há no balanço das minhas horas o cintilar da saudade que preciso para continuar. Desafio a dor mergulhando numa escritura que me faz repensar a vida e assim, eu não sigo sozinho. Isso de me ler em livros; reflexos meus ali traduzidos para afugentar a solidão. Escapo frente ao espelho e sem empobrecer. Livros de uma liminaridade por ser meio bruxa meio fada e a minha alma salva no exercício de tantas sensibilidades. Perto do coração selvagem, largo! A maça no escuro, abro! Ânsia de que o inesperado bom aconteça. Para além daqui dentro de mim: aconteça.
Flerto com a sorte inventando linguagens. O tempo passa e quase tudo sem tempo; desperdiço tempo para fazer pirraça; minha riqueza não vista é lida pela incompreensão.
Os fins de setembro me põem abaixo das reflexividades; indo triste, me ocupo de mim com cuidado e verdade. Renuncio a vergonha, tolero o medo, usufruo do tédio, evito segredos, abraço o mistério e me delato para não ser refém de mais ninguém.
Eis uma espécie de solução: estar livre dos prenúncios alheios que lhe afastam dos seus defeitos e das suas virtudes; que lhe anulam no onde naquilo que lhe desfaz como ser. Repilo.
Minhas viagens são poemas e imagens em Água Viva...
Meu trunfo é flutuar de arrebatamento por cada página lida evitando o fim de uma história que me acompanhará por toda vida: a obra de Clarice Lispector.
Clamo por um bom dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá,
Adorei o seu espaço.
Sou uma apaixonada por Clarice Lispector, para mim ela soube descrever com maestria os subterfúgios da alma humana e principalmente da feminina.
Abraços...
Estou o seguindo.

Marlon Marcos disse...

Obrigadíssimo, Elaine! e seja bem vinda; Clarice é uma razão na minha vida! Beijos.