quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Marítimo


O ano era 1998. A vida misturada à constante poesia e a um muito de dessentido. Uma ilusão perdida. Uma ilusão arrematada pela avassaladora chegada do profundo amor. Um brilho de vermelho realçando o azul essencial. Um ato de coragem a gritar o nome do amor que nem se sussurra...E Adriana cantando. A poesia das letras traduzindo minha emoção: '' você tem meia hora pra mudar a minha vida". O livro de Ferreira Gullar - Dentro da noite veloz - e o do mago Bandeira - Na cinza da hora - embalando minhas dezenas de noites insones quando de dia, a voz e as músicas de Adriana prendiam-me à história melhor e pior da minha vida. Uma festa do desconsolo. O gosto edificante de uma transformadora transgressão. Um disco tematizando o mar e eu mergulhado em um amor marítimo...Arrebatado em minha ingenuidade eterna, singrando a quimera que ali: era o sentido da minha existência. E eu dizia: " suas asas amor quem deu fui eu..."; e cantava: " corro demais, corro demais, corro demais só pra te ver". E não via. Caymmi trazia, em Adriana, a beira do mar e minha Janaína - o alicerce que não cede nunca e eu... Eu era um amontoado de palavras erguidas para o amor, cheias de dor que sangravam sangravam sangravam sangravam mas davam felicidade. A paisagem salgada de Salvador com minha vista para a solidão e tudo demais teria sido um beijo. Marítimo como trilha do meu silêncio obtuso e barulhento mas verdadeiro. Meu silêncio lacrimoso sendo eu mesmo aprendendo a viver como adulto e amando como criança!
Foi assim: 1998.

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